O ano de 2020 ficará marcado na história. Provavelmente, será um daqueles anos que os livros de história e de geografia darão destaque devido aos fatos de importância global que ocorreram ao longo do período. Vale lembrar que, já no terceiro dia do ano, um acontecimento abalou o mundo, os Estados Unidos mataram um dos mais perigosos militares do Oriente Médio o Qassim Suleimani, o General da Guarda Revolucionária do Irã. Naquele momento, esperava-se que poderia desencadear uma série de conflitos entre os EUA e o um de seus maiores inimigos do país.
Todavia, muitos não esperavam a crise que ocorreria ao longo do ano. O vírus que se espalhou na China e, posteriormente no mundo inteiro, gerou uma crise sem precedentes na saúde e na economia mundial. Apesar dos avisos de alguns cientistas e médicos da China Continental, de Hong Kong e de Taiwan, sobre a infecção entre humanos, o governo de Pequim dizia que essa transmissão não existia, tirando as preocupações da OMS. Mas posteriormente, viu-se que o nível de contágio da doença era altamente elevado, fazendo com que o mundo inteiro se ajoelhasse diante do vírus.
As bolsas em todo mundo caíram fortemente com agentes do mercado, formuladores de política econômica e organizações multilaterais, projetando forte queda da economia global em 2021. Diferentemente das outras crises, a pandemia de COVID-19 fez com que a oferta e a demanda sofressem. Pois, a queda na diminuição da renda das famílias reduziu o consumo e as perspectivas negativas geraram retração nos investimentos. Pelo lado da oferta, as medidas de distanciamento social também afetaram muitos negócios. Fazendo assim, com que alguns setores em específico tivessem perdas consideráveis ao longo do ano. Como foi o caso dos setores aéreos, de educação, viagens e outros cíclicos que dependiam fortemente da economia aberta.
Além disso, tivemos os impactos da guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia, quando Moscou não concordou em reduzir a produção da commodity energética após a queda nos preços oriunda da queda na demanda ocasionada pelas medidas de distanciamento social, em virtude do avanço da COVID-19 ao redor do mundo. O príncipe saudita, respondeu com o aumento da oferta de petróleo fazendo com que os preços tivessem forte queda, impactando os mercados financeiros em todo mundo. Todavia os dois países conseguiram entrar em acordo, contribuindo para a recuperação do preço dos contratos Brent e WTI.
Internamente, as idiossincrasias inerentes ao país, contribuíram para mais fatores relacionados ao risco percebido em relação ao país sendo evidenciado na taxa de juros de longo prazo:
No gráfico acima, a taxa de juros de longo prazo mostra que no ápice da crise, dado que a taxa de juros Selic estava em 2,00%, o indicador, evidenciou que o prêmio pelo risco se elevou fortemente, dado que as perspectivas em relação à condução da gestão da pandemia por parte governo, tal como seria a feito um então possível pacote de estímulos sem comprometer em demasia as contas públicas.
Como é possível ver, o Ibovespa também registrou forte queda, dado que o preço dos ativos possui relação inversa visto que os preços das ações são descontados pela taxa de juros futura. Todavia, como é possível ver, na segunda parte do ano, houve recuperação dos ativos e queda na taxa de juros.
A recuperação do mercado brasileiro ocorreu por fatores externos e internos. Externamente, a recuperação da China e o controle do avanço da doença em boa parte dos países do hemisfério norte, principalmente da Europa, ajudaram nas perspectivas à diminuir o risco global, fazendo com que os ativos de maior risco ficassem mais atraentes. Além disso, as medidas de estímulo ao redor do mundo tanto pelo lado monetário, quanto pelo lado fiscal como forma de dar liquidez ao mercado financeiro e também manter a renda das famílias, fez com que a queda esperada no começo da pandemia fosse bem menor do que o esperado no início, uma vez que a demanda agregada foi mantida.
Internamente, apesar de todos os problemas políticos, os pacotes de estímulos feito pelo Governo Federal contribuiram positivamente com a economia brasileira, gerando um efeito além do esperado. O programa foi feito para manter a renda das famílias. Contudo, teve o efeito de aumento na renda disponível e, por consequência da poupança das famílias.
O segundo efeito, ocorre por dois motivos, um é oriundo da política de renda do governo. Pois, parte da população que receberam o auxílio são autônomos. A classe média e alta, em momentos de crise, acaba tomando um comportamento mais racional, buscando trocar consumo presente por consumo futuro, o que também ajuda a elevar o nível de poupança, como um todo, da economia.
Mesmo após o começo da retomada da economia, com bons dados de conjuntura econômica e alta da bolsa, o risco voltou a aumentar ao longo do ano, com novos ruídos políticos e um possível abandono da agenda liberal de Paulo Guedes. Além disso, pelas importantes da ala econômica abdicarm de seus cargos como Mansueto Almeida e Salim Mattar. Então, o governo teve de se aproximar do Centrão, como forma de aprovar medidas importantes e passar credibilidade ao mercado.
Externamente, os riscos da segunda metade do ano se concentraram nas incertezas quanto às eleições americanas. Apesar dos modelos preditivos feitos pela mídia especializada apontarem uma ampla vitória do candidato democrata Joe Biden, as eleições foram acirradas, o que resultou nervosismo no mercado. Paralelamente, a segunda onda da COVID-19 no hemisfério norte, também contribuiu para a fuga de capitais em direção a ativos mais seguros.
Com o fim das eleições nos Estados Unidos, com o que era mais favorável ao mercado, uma vitória de Joe Biden para que o plano de aumento de gastos com estímulos fosse ampliado e um senado republicado contendo possíveis políticas de aumento de impostos de Biden, melhorou as perspectivas dos agentes. Devido às expectativas em torno dos estímulos nos Estados Unidos tiram a pressão do dólar, favorecendo mercados emergentes e gerando crescimento para a maior economia do planeta e, consequentemente, para a economia mundial. Ademais, as notícias em relação ao desenvolvimento de novas vacinas também contribuíram para que o risco global diminuísse, fazendo os investidores buscarem ativos relacionados com a reabertura da economia, além de diminuir o risco global. Assim, os recursos se voltaram para mercados emergentes, gerando um movimento de rotação nos mercados globais, conforme descrito no texto “Saiba como funciona a rotação de mercado em tempos de pandemia”.
Para 2021, há expectativa de continuação do processo de retomada da economia global. Os estímulos que continuarão as ser feitos nas economias do hemisfério norte da Ásia, especialmente da China, contribuirão para o aumento da demanda agregada global e para o aumento da liquidez nos mercados financeiros. A permanência do quantitative easing anunciada pelo BCE, BoE, BoJ e PBOC, farão com que as taxas de juro no mercado internacional continuem baixas, fazendo com que o valuation dos ativos negociados em bolsa nos mercados globais continue a se valorizar.
O avanço das economias também se deverá à imunização, a qual já tem início esse ano. Tal cenário faz com que o movimento de rotação dos mercados continue favorecendo mercados financeiros emergentes intensivos em companhias de setores tradicionais, como é o caso do Brasil.
Internamente, o ambiente político terá grande importância. Pois a depender de como serão conduzidas as articulações dentro do governo. Dentre as medidas que devem ser tomadas pelo governo a Reforma Tributária, a qual aguarda a apresentação do parecer do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), o relator do projeto.
O tema é uma das prioridades do governo. A PEC emergencial, que aguarda o parecer de Márcio Bittar, estabelece medidas de ajustes para que o custo da máquina pública diminua. Além disso, propõe mecanismos de estabilização fiscal e modificações na estrutura do orçamento federal. Outra forma importante é a Administrativa, possuindo o objetivo de alterar a disposição de servidores públicos em todas as esferas do governo no que diz respeito à organização administrativa.
Como o governo federal conduzirá a questão do auxílio emergencial também será de suma importância quanto a gestão macroeconômica. Pois, o que se for estendido em demasia, comprometerá as contas públicas e, caso seja retirado sem a permanência de uma reformulação de outro benefício social, poderá retirar a tração da economia. Do lado microeconômico, medidas como a Lei do Gás, Marco do Saneamento, Marco de Modernização do Setor Elétrico, Marco do Sistema Ferroviário, Leilão do 5G, o Programa de Estímulo ao Transporte de Cabotagem, o Programa de Debêntures de Infraestrutura, entre outras também serão importantes, principalmente pelo lado da oferta.
A queda no dólar e a recuperação da economia mundial e, especialmente, da China, contribuirá para a elevação nos preços das commodities. Assim, o Brasil, como um dos maiores exportadores dessa categoria de bem, terá muitos ganhos para a economia brasileira.
Como o Brasil precisa cumprir a agenda de reformas e de projetos de lei com foco liberalizantes, será necessário que o governo tenha parcimônia no que diz respeito às articulações do governo federal com a câmara, principalmente se Baleia Rossi, o candidato defendido por Maia para a presidência da instância governamental. Ainda, o governo terá de lidar com os membros de sua própria base que possuem perfil mais avesso à agenda liderada por Paulo Guedes. Assim, possíveis problemas para aprovação de reformas podem gerar falta de credibilidade em relação ao governo, aumentado, novamente o risco percebido em relação ao país, podendo impactar o dólar e a taxa de juros futuros.
Outro fator de risco, é a demora quanto ao processo de vacinação. A retomada completa da economia, principalmente no setor de serviços, depende da reabertura total do comércio. Embora, parte da demora esteja relacionada ao planejamento do próprio governo, o fato do processo de vacinação começar no hemisfério norte, pode fazer com que, países emergentes tenha mais demora para o recebimento das vacinas. Todavia, o fato de muitas pessoas escolherem esperar um pouco mais para tomar o imunizante, existe a possibilidade de haver excesso de vacinas no mundo e o Brasil pode se beneficiar disso.
Apesar de até então é considerado baixo por parte da OMS, são novas derivações da COVID-19 de forma mais agressiva, podendo gerar novas medidas de distanciamento social, trazendo grandes problemas à economia.
Por fim, com a vitória de Biden, a equipe do presidente Jair Bolsonaro, terá de buscar mudança em sua estratégia de negócios com restante do mundo, para que o Brasil não fique isolado. Dado que o democrata está fortemente alinhado com os objetivos da União Europeia, o Brasil terá de mostrar que está comprometido com as questões ambientais, para que não perca oportunidades de negócios com os americanos e europeus.
Quanto às tenções geopolíticas, o embate entre China e Estados Unidos devem continuar. Apesar de Biden adotar uma postura mais branda quando comparado a Trump, as constantes ameaças de Pequim à Taiwan, podem levar a novas tenções entre os americanos e chineses, tendo em vista o Tratado de Defesa Mútua entre os Estados Unidos e a ilha.
Apesar de parte dos riscos advirem de questões globais, boa parte são inerentes às questões que precisam ser equacionados pelo próprio país. Logo é de suma importância que a política seja conduzida com foco nas reformas e estabilidade econômica.
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Autor: Matheus Jaconeli