Primeira Análise –28/02/20

Tempo de leitura: 4 min.

Mais um dia de Bear Market assolou os mercados ontem (27). No penúltimo pregão do mês, os mercados operaram em franca queda, mas os movimentos foram um pouco diferentes do que o ocorreu na quarta-feira (26), pois a volatilidade e o ensaio de algumas retomadas leves ocorreram, mostrando a indecisão dos agentes por conta de um cenário cada vez mais imprevisível.

Ao longo do dia (27), os receios em relação ao coronavírus aumentaram por conta da aceleração dos casos fora da China, que já demonstra um cenário um pouco mais estável em relação às semanas anteriores, com empresas como a Starbucks reabrindo a maioria de suas lojas. No entanto, para além da China, os casos aumentaram e respeitados especialistas na área da saúde apontam para uma possível elevação da doença.

Grandes players globais como Goldman Sachs, Citi Bank, Bank of America, JP Morgan e outros, revisaram suas projeções para o crescimento da economia global e do Brasil, sendo mais um sinalizador de que o mercado acredita na desaceleração da economia global, por conta dos efeitos do vírus.

Com todas essas incertezas e problemas, a bolsa de São Paulo fechou com 102.983,54 pontos e queda 2,59%. As maiores quedas foram de GOLL4: -20,36%, UGPA3 -19,65%, GOAU4: -18,03%, CVCB3: -17,88% e GGBR4: -17,39%. Nesses momentos ações que dependem de commodities, viagens ou que são muito expostas ao exterior, sofrem muito, fazendo os investidores correrem para ativos mais seguros, no caso de ações, os grandes bancos, empresas de energia e outras empresas com pouca exposição ao exterior tendem a sofrer menos.

Nos EUA, as bolsas também registraram queda. O avanço do coronavírus e o aumento o aumento das possibilidades de Sanders ter força nas eleições fizeram os índices caírem. Dow Jones e o S&P 500 perderam 4,42% e a Nasdaq computou queda de 4,61%.

Os dados da economia americana, apesar de positivos, ou dentro do esperado, como foi o caso do PIB trimestral que ficou em 2,1%, não foram suficientes para conter franca queda. O diferencial entre as taxas de juros dos títulos do tesouro americano que vencem em três meses e de dez anos fechou com -14 b.p. a evidenciar a crença em uma possível recessão nos EUA por parte do mercado.

O Índice VIX (índice que mede a volatilidade do S&P 500 em porcentagem), fechou em 39,16. A última vez que o indicador chegou a esse patamar foi em 2012, quando chegou a alcançar 42,96.

Na Europa, a história não foi diferente. Apesar da melhora dos indicadores de alguns indicadores relacionados às expectativas, os mercados europeus continuaram pressionados pelas expectativas em torno da evolução do COVID-19.

A queda no velho continente foi liderada por Madrid, com 3,55% de queda. Londres, caiu em 3,49%. Paris perdeu 3,32%. Frankfurt teve redução de 3,19% de retração e Milão desacelerou 3,19%.

Emprego e lado fiscal para o Brasil

Hoje (28), sem balanços, além das preocupações em relação ao coronavírus, a agenda foca nos resultados de elevação do emprego, da taxa de desemprego, do lado fiscal, a relação dívida/PIB, Balanço orçamentário e superávit do orçamento.

No que diz respeito à taxa de desemprego, há a expectativa de queda, o que é muito positivo para economia, pois aumenta a renda das famílias influenciando positivamente o consumo. Contudo, com boa parte das novas vagas criadas trazerem retornos menores que os anteriores para os trabalhadores, sendo mais um componente que faz a economia crescer menos que o esperado.

Do lado das contas públicas, as expectativas e são mais animadoras. Os indicadores, após as políticas contracionistas do lado fiscal e reformas estruturais, possuem perspectiva de melhora. Além disso, a queda nas taxas de juros fazem com que custo da dívida diminua, fazendo com que a mesma seja melhor administrada e reduza o coeficiente dívida/PIB e melhore superávit orçamentário.

Ademais, a economia brasileira, todavia, sofre muito com a desaceleração do que acontece no mundo, pois é uma economia exportadora e que depende fortemente dos preços de commodities.

EUA com agenda cheia, preços, produção, consumo, expectativas e balança comercial no radar

A agenda de dados econômicos dos EUA para hoje (28) girará em torno de informações relacionadas ao nível de preços como o núcleo do índice de preços das despesas pessoais sendo é um indicador que, além das expectativas com consumo, pode mostrar como está o desempenho do consumo das famílias. Esses indicadores registraram resultados dentro do esperado nos últimos meses.

Como já foi dito, o consumo das famílias é um importante componente para o crescimento da economia.

Do lado da produção, o PMI de Chicago possui expectativa de aumento em relação ao mês anterior. Como o mercado americano depende menos da China e do exterior, o dado pode ser positivo, pois ainda não considera a aceleração da doença no país.

No que diz respeito às expectativas, os índices de confiança do consumidor e de percepção ajudarão a entender como os agentes estão a se comportar no momento atual.

Quanto ao consumo, a renda mensal, os gastos pessoais e o consumo pessoal real, mostram, além da evolução de preços, o desempenho do consumo das famílias. Além disso, a renda da pesquisa mensal contribui para compreender a condição dos salários dos agentes, pois com melhora na renda, há melhora na intensidade do consumo.

Os EUA, historicamente, importa mais bens que exporta e a expectativa é de redução desse déficit. Contudo, apesar de parecer positivo, uma redução na queda do déficit pode ser resultado de redução da renda ou por aumento das exportações.

Mesmo que os dados da atividade econômica sejam positivos, a discussão sobre os cortes nas taxas de juros volta à tona por conta do coronavírus.

Na China, produção é destaque

As expectativas para o PMI composto, industrial e de produtos não manufaturados para fevereiro, são de queda. Para o mês, os impactos do COVID-19 já foram agregados às análises do mês.

Uma queda na produção da China não é apenas negativo para o país, mas também é um dado ruim para economia global, devido à forte participação da China no comércio internacional.

Dados da Alemanha tomam a agenda europeia

Hoje, a maior economia do continente, divulga indicadores de preços e de desemprego.

Em meio ao cenário de incertezas e de risco por conta da doença que, após gerar pânico na China, se alastra para o mundo, as expectativas são de manutenção dos indicadores para fevereiro no mesmo patamar registrado no mês anterior.

As expectativas em relação à variação no número de pessoas desempregadas pode sair de -2 mil e ir para três + 3 mil. Do lado das perspectivas positivas, o IPC (índice de preços ao consumidor) mensal de fevereiro sai -0,6% para 0,3%, mostrando expectativa de leve aquecimento da economia alemã.

Todavia, o país, como todos os outros, estará mais atento para os desdobramentos da situação em torno do coronavírus.

Deixe um comentário