Na última sexta-feira (20), os mercados do mundo fecharam sem direção única. Enquanto o Brasil seguiu a desaceleração do mercado americano, a Europa teve altas devido as expectativas em relação as decisões dos governos, para mitigar os efeitos do covid-19 na economia dos países na região. Na Ásia, os mercados também não seguiram o mesmo caminho, com diversificação de altas e baixas no índices.
O último dia da semana passada (20), o mercado demostrou muita volatilidade. Antes da abertura no pregão, os índices futuros das bolsas dos Estados Unidos já mostravam que o dia seria marcado por incertezas e instabilidades e o mesmo ocorrera com os demais índices.
Mais uma vez, o mercado estava olhando para o avanço da pandemia coronavírus e dos esforços do governo por intermédio das políticas públicas juntamente com a ação dos bancos centrais para tentar, de alguma forma, trazer algum alivio nas expectativas dos agentes.
No Brasil, o Ibovespa começou o dia com ganhos e forte apetite pelo risco por parte dos agentes, o qual foi evidenciado por elevação nos preços de ações de setores mais cíclicos como aviação e comércio cíclico. A demanda por tais ativos também refletira a expectativa dos investidores em relação à possível ajuda do governo federal a tais setores para que empresas não quebrem.
Assim, foram registradas quedas em ações de grandes bancos e de empresas de energia.
Durante o final de semana, o governo brasileiro continuou a anunciar medidas de contenção da pandemia, com paralização do comércio, fechamento de eventos e fronteiras estaduais, com o objetivo de acabar aglomerações para deter o contágio da doença.
Do lado econômico, também houveram medidas tomadas durante o final de semana. O Supremo Tribunal Federal assinou uma medida cautelar, suspendendo o pagamento da dívida do estado de São Paulo junto â União, tendo em vista que 70% dos casos da doença se encontram no estado, prevê-se que os recursos que seriam destinados para o pagamento da dívida, serão destinados à saúde.
Já o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), divulgou que disponibilizará R$ 55 bilhões para reforçar empregos em empresas, sendo que R$ 20 bilhões em recursos serão destinados para o FGTS. Além disso, o governo anunciou resgate do FGTS de até R$ 980,00, até 21 de março.
O dólar comercial fechou em R$ 5,02, chagando a bater R$ 5,22. A cotação da moeda se estabilizou um pouco após as intervenções com leilões de câmbio à vista no valor de US$ 175 milhões.
Nos EUA, a volatilidade foi alta, com os agentes de olhos em todos os movimentos do governo Trump em relação à contenção do covid-19. Apesar das medidas de estímulo fiscal, os agentes continuaram com receio em relação ao avanço do coronavírus e ao lockdown de estados extremamente importantes para economia americana como a Califórnia e Nova York.
A expectativa negativa dos agentes fizeram com que a força vendedora fosse predominante na sexta-feira (20), de modo que o Dow Jones fechasse com queda de 4,55%. O S&P 500 amargou regresso de 4,34%. A Nasdaq, fechou em queda de 3,79%.
Mesmo com tanta volatilidade, índice VIX registrou queda de 8,28%, somando 66,04. Contudo, em meio os temores do final de semana, o VIX futuro chegou a atingir 72,31.
O petróleo WTI registraram queda de 11,06%, com cotação de US$ 22,43, mediante a queda na expectativa de crescimento econômico de todo mundo, tendo em vista os cortes nas perspectivas de todos os grandes players do mundo.
No entanto, o governo, durante o final de semana vem anunciando várias medidas de estímulo à economia americana. Ontem (22), Mnuchin anunciou que o FED disponibilizará US$ 4 trilhões para vários negócios, com o objetivo de contrabalancear os efeitos causados pelo coronavírus na economia americana.
Segundo o secretário do tesouro americano, a medida ajudará empresas de pequeno a grande porte durante o período de 90 a 120 dias. Entre as medidas do pacote de estímulo estão empréstimos à empresas que manterem seus funcionários, um cheque médio no valor de US$ 3.000,00 para famílias quatro pessoas e seguro desemprego aprimorado para pessoas demitidas por conta da pandemia.
Contudo, ainda no final de semana, James Bullard, presidente do FED de St. Louis, disse que a taxa de desemprego nos EUA pode chegar a 30%. Isso acontece porque os efeitos da pandemia pode acabar com setores inteiros da economia e também colocar boa parte dos trabalhadores informais na rua, dado que haverá forte queda na demanda por seus serviços. Como se não bastasse a notícia negativa vinda de St Louis, o senado americano travou um pacote de estímulo do coronavírus, com votação de 47 a 47, quando os republicanos precisavam de ao menos 60 votos para que a medida passasse. Assim, os futuros das bolsas américas aceleraram as quedas neste domingo, abrindo passagem para um possível pior mês, análogo de setembro de 1931, durante a grande recessão.
Na Europa, apesar do agravamento da crise do coronvírus e seu forte avanço, as bolsas europeias fecharam em alta. Os gastos por parte dos bancos europeus e medidas governamentais usadas ao longo da semana para amortecer os impactos do covid-19, arrefeceu o pessimismo dos investidores europeus.
Todavia, dado os impactos de longo e médio prazo oriundos do coronavírus, os mercados europeus, dificilmente conseguirão repetir os aumentos da semana passada.
Assim, Paris teve elevação de 5,01%. Frankfurt, somou ganhos de 3,70%. Madrid subiu 0,74% e Londres registrou alta de 0,76%.
Como é de praxe, hoje o Bacen divulgará o Relatório Focus com as expectativas dos analistas de mercado em relação à conjuntura econômica atual.
Provavelmente as expectativas para indicadores como PIB, balança comercial, produção industrial e inflação, estarão em baixa, devido os impactos do coronavírus, enquanto indicadores como câmbio e dívida/PIB, tendem subir, tendo em vista a quantidade de gastos que precisarão ser feitos e o risco percebido em relação ao Brasil.
O CAGED (em nova data, pois estava previsto para semana passada) anunciará o índice de evolução de emprego no Brasil. Apesar das expectativas mostrarem que o mercado espera avanço, o emprego no país tende a cair.
A expectativa de alta no indicador é porque ele ainda não levará os impactos do coronavírus na economia brasileira, tal qual como está prestes a acontecer.
O fechamento do comércio, prestadores de serviços e até da indústria, aliadas a falta de previsibilidade dos agentes quanto ao futuro, isto é, a quantidade de tempo que que levará para economia brasileira entrar em um processo de recuperação, faz com que muitos demitam seus funcionários e que profissionais que trabalham na informalidade também percam seus empregos, pois não produzirão, ou melhor dizendo, não terão demanda por seus serviços.
Esse processo é ruim para economia, pois com a economia perdendo pessoas empregadas, a renda cai. Com a queda na renda das famílias o consumo é pressionado para baixo, diminuído a demanda para bens e serviços. Sem demanda, muitos empresários não conseguem passar o custo de produção para os preços, fazendo a inflação cair por conta da pressão nos preços, e terá de cortar custos e a demissão é um dos caminhos, o que diminui mais ainda a renda e o processo se repete.
Sem intervenção governamental, esse processo começa a se repete dentro da economia, configurando um evento chamado espiral deflacionária, evidenciando o estado depressivo da economia.
A Receita Federal, divulgará a receita tributária para o mês de fevereiro e as expectativas de mercado são de alta. Contudo, o mês de fevereiro ainda não considera os impactos do covid-19. Mas para o próximos dados, por conta do desemprego e das paralizações, haverá menor arrecadação.
A queda na arrecadação afetará fortemente o orçamento do governo, dado que já existiram gastos necessários para diminuir os efeitos do coronavírus na economia.
Nos EUA, o FED de Chicago divulga os dados referente ao nível de atividade para o mês de fevereiro.
O indicador já vinha caindo desde novembro de 2019 e a expectativa é de nova queda e, talvez ainda mais forte, tendo em vista o avanço do coronvírus nos Estados Unidos.
A atividade americana, assim como de todos os países, em todos seus indicadores sofrerão redução por conta de todos os efeitos do covid-19, tal qual prevê grandes players do mercado.
Na Alemanha, os indicadores de preços de produtos importados será divulgado pelo departamento de estatísticas Alemão (Destatis).
Tendo em vista a desaceleração da economia Alemã e a queda na renda, as importações caem. Como há diminuição da demanda, os preços tendem a cair.
A queda nos preços de bens importados, gerará retração na inflação, sendo mais um indicador que indica a desaceleração e fragilidade atual da economia Alemã.
Para a Zona do Euro, o instituto European Commission, divulgará o indicador de confiança do consumidor.
O índice é tem importância pois indica o nível de consumo das famílias para o bloco econômico. Como o consumo é uma importante variável do PIB, mostrando para onde segue a demanda da economia e, por conseguinte, o nível de preços.
A queda na renda, devido à desaceleração econômica, afeta fortemente o consumo de bens e serviços, fazendo com que as expectativas para o consumo desse mês sejam desanimadores