Primeira Análise - 18/03/20

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Ontem (17), foi mais um dia de repique, com avanço nos mercados financeiros do mundo todo, após as quedas nos mercados internacionais do dia anterior (16).

Contudo, é preciso deixar sempre claro que em um momento de instabilidade no mercado financeiro e cenário nebuloso para a economia real, as altas pontuais não possuem fortes fundamentos e também não significam reversão de cenário. Assim, os ganhos de ontem não expressam melhora nas condições de mercado, na economia ou até mesmo nas perspectivas dos agentes econômicos.

Tendo em vista esse cenário, os governos de todo mundo discutem e tomam iniciativas para conter as consequências do covid-19 na economia e no mercado financeiro, buscando amenizar a crise e abrir caminho para uma recuperação mais rápida possível.

A bolsa brasileira também seguiu o caminho das bolsas internacionais. O mercado já abriu em alta e houve aceleração nos ganhos após as medidas adotadas pelo FED.

No cenário interno, o governo também se mobilizou em relação ao controle do coronavírus. Na câmera dos deputados, Rodrigo Maia defendeu o fechamento das fronteiras do Brasil, com o objetivo de impedir o avanço de contaminados pelo covid-19, seguindo o exemplo da Europa e Estados Unidos.

Do ponto de vista fiscal, foi anunciado foi anunciado a ampliação do Bolsa Família em até R$ 3,1 bilhões, envio de R$ 5,1 bilhões para o ministério da saúde, adiantamento do da segunda parcela do 13°, R$ 5 bilhões em crédito do Proger/FAT para micro e pequenas empresas, diminuição de encargos e discussão de medidas para retomar o setor de construção civil. As medidas do lado fiscal, juntamente com a política monetária podem ajudar o país a se recuperar.

No entanto, os analistas estão revisando o crescimento brasileiro para baixo e é necessário tomar cuidado. O Instituto Fiscal Independente alertou os impactos do coronavírus e de queda nos preços do petróleo na economia brasileira, gerando queda na oferta global de empregos, desarticulação das cadeias de produção e restrição dos investimentos. As medidas tomadas do lado fiscal podem contribuir para retomada, mas é necessário ter parcimônia para que a lei de responsabilidade fiscal não seja pressionada.  

A bolsa de São Paulo fechou o dia com alta de 4,85%, alcançando 74.617,24 pontos.

Apesar do mercado de ações ter desempenhado bem, o câmbio se manteve em patamar elevado. O dólar comercial fechou em R$ 5,0112.

Nos EUA, muitas medidas vêm sendo anunciadas pela Casa Branca e pelo FED. Ontem (17), o presidente Donald Trump informou que a parcela da população que não tiver acesso a convênio médico ou seguro saúde terá os custos pagos. O governo americano ainda busca novas medidas fiscais para mitigar os impactos da doença como um pacote fiscal de US$ 850 bilhões para ajudar as companhias mais afetadas pelo coronavírus e o FED continua a tomar medidas para manter a estabilidade do sistema financeiro.

A nova medida tomada pelo banco central dos EUA é um instrumento de financiamento “Commercial Paper”’ com o objetivo de assistir o fluxo de crédito para famílias e empresas. Essa medida é importante, pois com o aumento do risco, os agentes buscarão títulos seguros, fazendo com que fujam de dívida corporativa e as instituições financeiras tendem a dificultar o crédito às famílias. Assim, o instrumento financeiro contribuirá para que as empresas com mais dificuldades consigam atender suas necessidades operacionais e as famílias conseguirão crédito para o financiamento para empréstimos e hipotecas.

Ainda do lado fiscal, o secretário das Finanças dos EUA, Steven Mnuchin afirmou que o governo Trump prevê injeção de US$ 1 trilhão na economia americana para arrefecer os efeitos do covid-19.

Dessa forma, apesar do descaso inicial por parte do governo americano com a doença, a combinação entre a política monetária e fiscal do lado econômico e os esforços quanto à assistência para a população, contribuirá para o controle da epidemia e de seus efeitos na economia.

Com este cenário, o Dow Jones fechou com alta de 5,20%. A Nasdaq, liderando as altas, fechou o dia com ganhos de 6,23% e o S&P 500 teve ganhos de 6%.

O índice VIX (importante medida de risco da bolsa americana) registrou queda ao longo do pregão. Todavia, se manteve em níveis elevados, fechando o dia em 75,91, mostrando que o S&P 500 pode variar entre 75,91% para cima ou para baixo.

O petróleo WTI sofreu fortemente. A contínua briga entre russos e sauditas gera elevado nível de incerteza quanto ao desempenho dos preços da commodity, além da desaceleração da economia global, reduzindo a demanda. Assim, o os preços do petróleo fecharam em franca queda, sendo cotado a US$ 27,23 o barril.

Na Europa, os mercados também respiraram um pouco. No começo do dia, as bolsas europeias apresentaram certo desânimo, tendo em vista que os dados de expectativas e de condições atuais de março para a Alemanha e União Europeia, vieram muito aquém do esperado, mesmo que a expectativa do mercado já fosse de baixa. Contudo, ao longo do dia, os mercados do velho continente resistiram e acompanharam o repique do resto do mundo.

Em reunião com os membros da União Europeia, os líderes concordaram em tomar medidas de contenção impedindo a mobilidade de pessoas entro os países do continente e, além disso, são tomadas medidas fiscais por parte dos governos, como forma diminuir os efeitos do covid-19.

Apesar das medidas, o vírus vai se agravando, chegando a proporções críticas na Itália de modo que corpos de vítimas cheguem a ficar 24 horas dentro de casa. A situação é tão drástica que empresas relacionadas à viagens estão a pedir falência em vários países, a França acionou toque de recolher.

Dado o cenário os países da região estão se mobilizando e incrementando vários pacotes de injeção de dinheiro na economia para conter os prejuízos causados pela pandemia. A Espanha anunciou injeção de 200 milhões de euros. Na França, o ministro das finanças, Bruno Le Maire, disse que será liberado um pacote 45 milhões de euros para ajudar empresas e funcionários. O governo de Merkel disponibilizará uma linha de financiamento para empresas no valor 550 milhões de euros.

Apesar dos esforços, a Europa já vinha com crescimento muito fraco, mesmo antes do avanço do coronavírus e essas medidas tem o objetivo de amenizar os impactos da pandemia.

Londres fechou com alta de 2,79%. Frankfurt teve elevação de 2,25%. Paris acelerou 2,84%. Milão, se elevou em 2,23% e Madrid, o destaque da região no dia (17), teve ganhos de 6,41%.

No Brasil, reunião do Copom e dados de emprego

Hoje, o Copom (comitê de política monetária) realizará a decisão referente às taxas de juros que atualmente está em 4,25%.

Após o último corte, o comitê informou que não realizaria novos cortes nas taxas de juros. Contudo, mesmo em pouco tempo, o cenário mudou muito. Os dados de atividade econômica já mostravam recuperação lenta, tendo em vista o que era esperado para a economia do país, levando muitos analistas de mercado a discutirem um novo corte na taxa de juros.

Com o avanço do covid-19 para além da China e Ásia, gerando fortes problemas para o ocidente. Outro choque que atingiu fortemente a economia foi a guerra de preços no mercado de petróleo entre russos e sauditas, trazendo mais um fator de risco para o país e para economia global.

Assim, espera-se novo corte na taxa de juros, de modo que ela fique em 3,25%.

O corte na taxa de juros uma medida que busca estimular a economia tendo em vista que a taxa Selic é a referência para todas as demais taxas da economia. Com a queda da taxa Selic, o crédito ficará mais barato, os impactos nos lucros das empresas serão amenizados e dinheiro será injetado na economia. Contudo, da mesma forma que ocorre nos demais países, é preciso coordenação com a política fiscal e medidas do ministério da saúde.

Quanto aos dados do mercado de trabalho, o CAGED divulgará os dados de evolução do emprego. O mercado projeta evolução com 70 mil vagas criadas. Contudo, as próximas observações podem trazer resultados ruins, dado os riscos advindos do coronavírus.

EUA: estoques de petróleo e dados da construção civil

Nos EUA, além do avanço do coronavírus e as decisões dos formuladores de políticas, a conjuntura econômica terá dados importantes.

Quanto à construção civil, serão divulgados o número de autorizações para novos projetos de construção civil emitidas pelo governo.

Aumento de projetos de construção indicam crescimento da economia, dado que o setor emprega e tem sinergia com outros setores, além de mostrar avanço de alguns agentes como famílias demandando novas moradias e firmas ampliando suas plantas.

O indicador vinha demonstrando alta tanto no mês-a-mês, quanto na comparação anual, mas em janeiro já foi vista uma queda na construção de novas casas. O cenário atual, por conta da desaceleração econômica, pode trazer impactos negativos para o setor.

Também serão divulgados dados sobre o estoque de petróleo bruto pela Energy Information Administration. Os estoque do petróleo demonstram aumento ao longo do ano por conta da desaceleração econômica e da briga entre Arábia Saudita e Rússia com ambos despejando a commodity no mercado.

Assim, é possível que os estoques do petróleo continuem aumentado. Contudo, as decisão do governo americano de comprar petróleo para a reserva estratégica do governo pode amenizar o os impactos negativos advindos dos choques da guerra comercial entre os membros da OPEP+ e do coronavírus.

No velho continente: dados de inflação

Hoje (18), a Eurostat (agência de estatísticas da UE) divulgará os dados de inflação de fevereiro.

Como a economia europeia está parada, o comum é esperar dados fracos em relação aos avanços dos preços para região. Contudo, no curto prazo os preços de produtos de primeira necessidade como produtos de limpeza, higiene pessoal e alimentos não perecíveis podem gerar elevação dos preços.

Contudo, o impacto é de curto prazo. Como boa parte dos países do bloco já estão em quarentena, as próximas observações, provavelmente, registrarão queda no indicador.

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