Como já era previsto, a alta da última terça-feira (10), era apenas um repique frente a realização do dia anterior. Contudo, a queda nas bolsas internacionais amargou quedas mais expressivas do que o esperado com atualização do coronavírus por parte da OMC, o posicionamento relativamente ambíguo de Donald Trump e, no cenário interno, após a bolsa brasileira ter seu segundo circuit breack, a política pode trazer mais uma variável que trará incerteza ás expectativas dos agentes, trazendo volatilidade ao Ibovespa.
O Ibovespa abriu ensaiando uma alta, com 92.202,15 pontos. Todavia, os ventos de foram fizeram o bolsa balançar. A falta de posicionamento, ou melhor, o posicionamento dubitável do presidente dos EUA no que diz respeito a políticas econômicas que possam efetivamente ir contra o possível ciclo decorrente do avanço do coronavírus, fez com que as bolsas americanas caíssem influenciando a bolsa brasileira, revertendo a leve tendência de alta e virando para queda que apenas se aprofundou ao longo do dia.
O segundo fator que levou as bolsas à bancarrota no dia, foi o anúncio da OMS, por volta das 13 horas, declarando o covid-19 uma pandemia. As bolsas americanas aprofundaram a queda juntamente com o Ibovespa e, os mercados europeus, que estavam subido por conta da fala de Lagarde pressionando os ministros europeus a tomarem providências mais assertivas contra os possíveis efeitos do covid-19, reverteram a alta.
Com esse cenário, a bolsa de São Paulo teve queda de 7,64% e, como se não bastasse o derretimento do mercado acionário, o cenário político trouxe mais um fator de risco sistêmico. O congresso derrubou o veto que amplia Benefício de Prestação continuada (BPC) por 302 votos a favor e 137 contra, trazendo impacto de R$ 20 bilhões às contas públicas neste ano. Com a derrubado do veto, o minicontrato de índice futuro da bolsa brasileira fechou em 80.580 pontos, indicando queda nas expectativas dos investidores em relação à bolsa brasileira. A decisão política também trouxe forte risco, fazendo o dólar disparar. O dólar comercial fechou em R$ 4,8152 e o turismo terminou o dia cotado a R$ 4,815.
No que diz respeito à conjuntura econômica, mais um dado mostra desaceleração da economia brasileira. A inflação, acelerou apenas 0,25%, sendo o menor avanço para o mês de fevereiro desde 2000. No ano, o indicador acumula alta de 4,01%, contra 4,19% em relação à última observação. A fraca aceleração da inflação é consequência da fraca atividade econômica, o que dá espaço para política monetária agir e impede o repasse da desvalorização do real aos preços da economia brasileira.
Nos EUA, as indecisões e o avanço do coronavírus foram fatores de relevância para queda. Tanto que nem a intervenção do FED com REPO, operação de recompra de títulos públicos dos bancos pelo Banco Central, conteve o mau humor.
Dow Jones, liderou as quedas, com 5,86% de derretimento. O S&P 500, desacelerou 4,89% e a Nasdaq acumulou perdas de 4,705.
Na conjuntura econômica, apesar de já se esperar avanço no estoque de petróleo, os estoques aumentaram além do esperado, evidenciando a forte queda na demanda pela commdity. A EIA (agência de energia americana) registrou avanço de o estoque de petróleo bruto, somando 7,664 mil barris estocados, conta 785 mil barris na última observação.
Já os dados de inflação do EUA para fevereiro, mostraram estabilidade. O IPC mensal acumulou avanço 0,1% na comparação mês a mês, enquanto o ano acumulou avanço de 2,3%.
Na Europa, apesar do forte discurso de Lagarde e de alguns países, a exemplo do Reino Unido, começarem a anunciar a tomada de medidas contra o avanço do covid-19, o anúncio da OMS foi decisivo para a queda, dado que a Europa passa por momento delicado com avanço expressivo do vírus.
Londres derreteu 1,40%, apesar do corte da taxa de juros de 0,75% para 0,25%, injetando £ 435 bilhões na economia. Paris, teve redução de 0,57%. Frankfurt, teve redução de 0,35% e Madrid caiu 0,34%.
Hoje (12), a agenda nacional estará praticamente vazia. O único indicador de conjuntura será o índice de confiança do consumidor para março, divulgado pela Reuters.
Na verdade, os olhos do mercado e dos agentes estarão voltados para o desenrolar da questão política.
A derrubada do veto relacionado ao BPO, foi uma evidência de que o congresso tem força contra o governo e isso pode trazer mais risco à bolsa brasileira e ao cenário político-econômico.
Após o duro discurso de Lagarge de ontem (11), dificilmente o Banco central europeu tomará alguma medida diferente da esperada pelo mercado.
Cidades inteiras em quarentena na Itália, a ponto de fechar o comércio varejista, fechamento de eventos públicos em toda Europa, decretos do governo sobre racionamento de alimentos e outras medidas, um tanto alarmantes, de contenção para tentar amenizar os efeitos do coronavírus deixa evidente que ações precisam ser tomadas com agilidade e inteligência para que os efeitos da epidemia não sejam agravados e a economia. Assim, a exemplo do BOE (banco da Inglaterra), o Banco Central Europeu deve cortar ainda mais as taxas de juros, como medida para sustentar o nível de atividade da economia.
Apesar de não ser o que estará no radar dos agentes, a produção industrial para a Zona do Euro e União Europeia pode trazer mais um dado de como a atividade europeia está enfraquecida, apesar do dado não incorporar os efeitos do coronavírus, pois é referente ao mês de janeiro.
Na comparação mensal espera-se avanço de 1,4% de avanço contra retração de 2,1% em dezembro de 2019 e no acumulado do ano, é esperada queda de 3,1% contra desaceleração de 4,1% na observação anterior.
Nos EUA, serão divulgados novos dados referentes ao desemprego. Esses dados são importantes para entender a tendência do mercado de trabalho americano.
O último relatório do payroll, o dado mais importante de desemprego nos EUA, alertava os possíveis impactos negativos do coronavírus para o avanço do mercado de trabalho de queda no desemprego na economia americana e os dados de pedidos por seguro desemprego podem mostrar como o desemprego está avançando.
O IPP, índice de preços ao produtor, mostrará o avanço dos preços na visão dos produtores, trazendo a compreensão se a demanda pelos bens e serviços produzidos na economia americana está caindo ou subindo. Na comparação mês a mês, espera-se deflação de 0,1% e no ano, avanço fraco de 1,8% contra 2,1% de janeiro. Essa queda nos preços já incorpora os impactos do avanço do coronavírus.