Primeira Análise - 09/03/20

Tempo de leitura: 8 min.

O fechamento do mercado na sexta-feira (06) foi negativo. Novamente, o avanço do coronavírus e os temores em relação aos seus possíveis impactos foram o fator chave para queda nos mercados em todo mundo.

No Brasil, o IBGE divulgou o IPP (Índice de preços ao produtor) para janeiro de 2020 somou variação de 0,32%, contra 0,65% de dezembro. O indicador pode ser usado como uma prévia da inflação e também mostra a evolução dos preços pela percepção dos produtores. Os dados referentes à inflação vêm demonstrando uma aceleração mais vagarosa em relação aos períodos anteriores corre por uma recuperação fraca da economia brasileira.

A Anfavea divulgou os dados referentes ao mercado automobilístico brasileiro para o mês de fevereiro de 2020. Apesar das alta de 6,5% na produção de veículos em relação ao mês imediatamente anterior, quando comparado com o mesmo período do ano passado, há redução de 20,8%. Quanto às vendas, houve uma alta 3,9% em relação à janeiro, o melhor resultado para fevereiro desde 2014, o qual teve impacto das mudanças de placas que passaram a adotar o padrão Mercosul. Já as exportações de veículos, saltaram 83,4% em relação à janeiro, porém houve queda de 7% em relação a fevereiro de 2019.

O relatório também destacou os impactos do coronavírus na produção, causando um choque de oferta. O fato da maioria das autopeças serem importadas do gigante asiático pode gerar interrupção da produção de veículos em março. Ademais, outros países menos afetados pelo covid-19, que também são exportadores de autopeças, podem ser impedidos de enviar seus produtos à indústria automobilística brasileira, pelo fato de insumos necessários para produção de tais autopeças serem de origem chinesa.

Outro fator de risco à indústria em questão é o patamar do dólar. O aumento do risco internacional faz com que o fluxo de dólar saia de países emergentes como o Brasil, pois os investidores estrangeiros passam a tirar seus recursos do país para investir em economias mais seguras. Esse movimento faz com que o dólar se aprecie (fique mais caro) em relação ao real. Assim, as peças importadas ficam mais caras, gerando elevação dos custos ao produtor nacional.

O relatório da associação mostra que o setor espera que o governo brasileiro tome medidas, além do corte nas taxas de juros para amenizar os impactos do coronavírus.

Problemas no setor automotivo impacta negativamente algumas empresas cotadas na bolsa de valores que são fornecedoras do setor automotivo como Tupy (TUPY3), que produz blocos de motor e cabeçotes. Metal Leve (LEVE3), produz pistões e filtros. IOCHPE-MAXION (MYPK3), fornece rodas e componentes estruturas. Tegma (TGMA3), faz gestão logística relacionada com o setor.

Na agenda corporativa, foram divulgados os resultados de Hypera com queda de 22,93% no último trimestre do ano passado em relação ao mesmo período de 2018, acumulando lucro líquido de R$ 238,8 milhões. No acumulado do ano, houve aumento de 3,05% no acumulado do ano de 2019, somando lucro líquido de R$ 1.164 milhões.

Outra empresa que divulgou seus resultados foi a M. Dias Branco. A líder nacional no seguimento de massas alimentícias e biscoitos, registrou elevação de 89,5% do lucro líquido no quarto trimestre de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior, somando R$ 264,9 milhões. No ano, houve redução de 23,0% em seu resultado, totalizando um lucro líquido de R$ 556,9.

Ainda no ambiente corporativo, a CVC, ainda no dia 5 (quinta-feira) anunciou a contratação do ex-presidente da Smiles, empresa de gestão de programas de fidelidade. A notícia foi vista como positiva pelo mercado, fazendo o papel da empresa (CVCB3) subir 14,40%, atingindo R$ 23,27, sendo uma das maiores altas da bolsa em um dia de severa queda.

O Ibovespa fechou a sexta-feira (06) com queda de 4,14%, atingindo 97.996,77 pontos, senda influenciada pelos riscos do coronavírus e seus impactos. Na semana, a queda foi de 5,93%.

Nos EUA, o dado mais importante do dia (06), o payroll, teve resultado positivo, com a criação de 273 mil vagas de emprego em fevereiro, contra a expectativa 175 mil vagas.

Os demais dados inerentes ao mercado de trabalho americano também foram positivos. O Payroll do setor privado evidenciara a criação de 228 mil vagas contra a projeção de 160 mil novas vagas. A taxa de desemprego caiu de 3,6% para 3,5%. O payroll do setor manufatureiro saiu do negativo de janeiro, quando foram destruídas 20 mil vagas, registrando aumento de 15 mil novos empregos em fevereiro. Contudo, o relatório divulgado pelo Bureau of Labor Statistics informou receio quanto aos impactos do cornovírus, pois a doença pode comprometer o nível de contratações para os próximos meses.

O avanço do novo cornovírus nos EUA, vêm aumentando e preocupando as autoridades. Cidades e estados como Seattle, a Califórnia, Nova York, São Francisco vêm declarando estado de emergência em por conta do avanço da doença. Grandes companhias já estão pedindo que os empregados trabalhem em casa para evitar o contágio da doença.

A incerteza e volatilidade voltou a ganhar força, com os investidores acreditando que a bolsa americana (o S&P 500) pode se valorizar ou se desvalorizar em 41,94%, pois o índice VIX voltou aos patamares acima dos 40, fechando em 41,94. Na sexta-feira (06), o indicador chegou a alcançar 54,39.

A taxa de juros para 10 anos nos EUA, sexta-feira (06) fechou em 0,77%, com queda de 15,70% no dia. Demonstrando que o mercado espera uma recessão nos EUA.

Deste modo, com os temores em torno da doença, as bolsas americanas fecharam o dia com nova queda. Nasdaq, liderando as quedas, decresceu 1,87%. O S&P 500, caiu 1,71% e o Dow Jones teve desaceleração de 0,98%.

Na Europa, o número de pessoas infectadas pelo coronavírus só aumenta, fazendo as expectativas em relação à economia piorem e, por consequência as bolsas caíram. A Itália, via decreto, fechou cinemas, teatros, eventos públicos e até pediu que a população evite apertos de mão e abraços, além de solicitar aos cidadãos um metro de distância de outra pessoa para evitar o contágio.

A principal economia da União Europeia, a Alemanha, também sugeriu aos cidadãos que não saíssem de casa, para evitar o contágio. 

Macron, em discurso na sexta-feira (06) foi direto ao considerar inevitável uma epidemia causada pelo covid-19. O governo francês pretende, por intermédio de decreto fixar o preço do álcool em gel.

Com todos os temores em torno dos impactos ocasionados pelo covid-19, as bolsas europeias também fecharam em queda.

Paris caiu 4,14%. Londres registrou 3,62% de queda. Madrid, teve perda de 3,54%. Frankfurt, apesar do dado positivo do indicador de encomenda das indústria (aumento de 5,5%, contra expectativa 1,4%) perdeu 3,37%.  

Apesar das quedas no número de casos na China e empresas estarem a anunciar o retorno das operações no país, o vírus aumentou no Japão, Coréia do Sul e Malásia.

No que diz respeito aos dados de conjuntura econômica da região, a China registrou franca queda em suas exportações em fevereiro, com diminuição de 17,2% (contra as expectativas de -14%). Quanto às importações, queda não foi tão ruim quanto era projetado pelo mercado (-%15), registrando 4% de retração. Um dado positivo é que as importações de minério de ferro continuaram a aumentar o que pode favorecer o as empresas do setor de siderurgia e mineração negociadas na bolsa brasileira.

Nesse interim, os mercados asiáticos também fecharam a semana em queda. Shangai caiu 1,21%. O KOSPI caiu fortemente, registrando 4,12% de perda. O Hang Seng também teve fortes perdas, com realização de 4,30%. O Nikkei caiu 2,72%.

OPEP+ e a queda nos preços de petróleo

Ontem (08), os futuros dos contratos de petróleo fecharam em forte queda por conta de um temor que pode ser ocasionado por uma possível guerra de preços no mercado da commodity travada pelos membros da OPEP e a Rússia.

A cotação do petróleo WTI chegou a alcançar US$ 28,32 barril, enquanto o petróleo Brent alcançou USS$ 32,09.

As negociações mal sucedidas entre Arábia Saudita e Rússia, levaram o país árabe a preparar um provável aumento na produção de petróleo, o que levará à uma forte queda nos preços, como uma medida de retaliação aos russos, de modo a impactar fortemente os produtores de xisto.

Assim, os preços do petróleo que já vinham caindo por conta da queda na demanda global ocasionada pelos impactos do covid-19, terão mais uma pressão baixista devido ao desacordo dos membros da OPEP+.

Pensando na bolsa brasileira, empresas como Petrobras, Petrorio e BR Distribuidora e Ultrapar podem sofrer efeitos em suas receitas por conta da queda no preço.

Para economia global, a guerra entre os membros da OPEP+ não é positiva, pois pode levar a um stress financeiro nas bolsas de todo mundo, além de impactar as empresas produtoras de petróleo e refinarias que já estavam sofrendo com a queda na demanda global.

Inflação e Boletim Focus

Hoje (09), será divulgado IGP-DI de fevereiro. O indicador tem o objetivo de medir o comportamento dos preços em geral da economia brasileira, sendo a média dos indicadores IPA (Índice de preços ao atacado) com ponderação de 60%, do IPC (índice de preços ao consumidor) com 30% da ponderação e, por fim, INCC (índice nacional de preços da construção civil) com 10% de ponderação. Dado o fraco crescimento da economia brasileira, há expectativa de baixa aceleração do indicador. Quando a economia está crescendo de forma lenta ou não está crescendo, a demanda fica reprimida, pois menos renda está sendo gerada pelo país. Com menos renda, a procura por produtos e serviços cresce de forma lenta ou diminui, fazendo com que os preços tenham o mesmo comportamento.

Como de praxe, toda segunda-feira, é divulgado o Boletim Focus pelo Bacen. O relatório possui as expectativas dos analistas de mercado em relação aos principais dados da conjuntura econômica. Ao longo das semanas de fevereiro e do início da semana de março, vários players do mercado estavam a revisar as expectativas para baixo o crescimento econômico global e do Brasil e isso pode estar refletido no boletim de hoje.

Nos EUA, mais um indicador referente ao mercado de trabalho

Após uma semana com a agenda lotada e foco no coronavírus, a segunda semana de março se inicia com poucos dados a serem divulgados. O The Conference Board divulgará o índice de tendência de emprego evidenciando as expectativas de criação de emprego nos EUA.

Assim, como nos outros dias, o foco será os possíveis impactos e a evolução do covid-19 no país.

Comércio internacional da principal economia europeia e expectativas de investidores

A Alemanha divulgará os resultados de seus negócios com resto do mundo. A principal economia do velho continente que, de certa forma, flerta com a recessão e vive em um momento de fragilidade por conta do avanço do cornavírus é um dos maiores exportadores do mundo e uma queda em seus dados de comércio internacional se mostra como mais um sintoma de desaceleração da economia mundial. As expectativas são as exportações de janeiro tenham registrado queda de 0,2%, tal qual as importações do país.

Para união Europeia, será divulgado o indicador de confiança dos investidores na atividade econômica (de março) pelo instituto Sentix da Alemanha. Dado o cenário de pessimismo, as projeções do mercado são de que o indicador tenha retração de 11,1%, conta elevação 5,2% na última observação.

Inflação chinesa e recuperação

Pouco a pouco as empresas vão retomando a sua produção na China e o mercado estará de olho nisso, além da diminuição de ocorrências do coronavírus no país. Em paralelo, na noite de hoje (09). Serão divulgados os dados de inflação para fevereiro do país. Ainda com os resquícios da crise em torno da explosão de casos para época, espera-se que no mês IPC (índice de preços ao consumidor) tenha elevação de apenas 0,8%. No ano, há projeção de 5,2%.

O índice de preços ao produtor (IPP) tem expectativa de queda de 0,3%, dado que o mês de fevereiro houve paralização de muitas indústrias e muitos cidadãos chineses evitaram ter sua rotina normal.

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