Ontem (12), foi divulgado pela Academia Sueca, o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, isto é, o equivalente ao prêmio Nobel de Economia. O prêmio foi criado em 1968 pelo Sveriges Riksbank, Banco Central Sueco, e concedido pela primeira vez em 1969.
Os ganhadores deste ano foram os professores de Stanford, Paul R. Milgrom e Robert B. Wilson, alcançando o 51° prêmio, ambos matemáticos, que conquistaram a gratificação pela contribuição à teoria dos leilões, uma subárea da microeconomia. As pesquisas dos dois professores são importantes, pois beneficiam ofertantes e demandantes em inúmeros mercados como o financeiro, concessões públicas, serviços jurídicos e outros.
Cada regra de licitação possui resultados e preços diferentes, o que pode gerar problemas para os agentes. Um problema em específico é a “maldição do vencedor”. Tal conceito foi bem explicado pelo economista e jornalista britânico, Tim Harford, em seu livro “A Lógica da Vida”:
Um exemplo conhecido é a “maldição do ganhador”. A maldição decorre de uma característica dos leilões: você só ganha quando os outros interessados acham que você está fazendo um lance muito alto. Posso invocar a maldição e produzir comportamentos desordenados oferecendo em leilão um pote de moedas. Se eu pedir a várias pessoas que estimem o valor total das moedas no pote, provavelmente terei uma resposta bastante precisa. Apesar disso, se eu fizer um leilão do valor das moedas no pote, oferecendo emitir ao vencedor um cheque no valor que for, é quase certo que farei um bom negócio, porque pelo menos um interessado será muito otimista. É a “maldição do ganhador” em ação.
Isso ocorre não porque o leilão produza algum tipo de comportamento psicológico excêntrico, mas sim porque, enquanto a pesquisa com as pessoas nos dá uma estimativa média do valor das moedas, o leilão não produz essa média. Ao contrário, o leilão seleciona automaticamente o maior lance; quanto mais extravagante, melhor. A pesquisa revela aquilo que James Surowiecki, colunista do New Yorker, chama de “sabedoria das multidões”. O leilão, por sua vez, revela o maior dos tolos.”
HAFORD, Tim. A lógica da vida. Rio de Janeiro, Record, 2009 p. 71-72.
Para resolver esse problema, os dois professores foram os primeiros a recomendarem o sistema de licitações abertas. Ou seja, quando é possível saber os lances dos competidores pelo objeto do leilão.
Tendo em vista a existência da maldição do ganhador, é necessário levar em conta o valor estimado do item e dos lances dos compradores, os quais estão sujeitos ao erro. Então, para minimizar a possiblidade do problema, o lance precisa ser reduzido ao máximo em relação ao valor estimado, em um montante igual ao erro do possível vencedor. Quanto mais próxima a estimação for do valor verdadeiro, menor é a redução do lance, pois há uma menor assimetria de informação. Caso não seja possível estimar o valor do item a ser leiloado, é preciso que o agente estime a variação por meio do desvio padrão das estimativas dos outros participantes do leilão. Mas se a disparidade entre os lances for elevada, a estimativa do valor do item leiloado será imprecisa.
Todavia, o problema decorrente da “maldição do ganhador” tende a correr em leilões fechados. Pois quando o é aberto e com valor comum, os lances realizados estarão abaixo da avaliação individual. Se houver muita incerteza em relação ao item, a possiblidade de haver um lance muito alto, aumenta a chance do comprador reduzir o seu lance, para não ter o risco de incorrer na “maldição do ganhador”.
Quando o leilão é aberto e de valor comum, o valor do item é o mesmo para todos os potenciais compradores. Sendo assim é possível verificar quais participantes do leilão começam a sair, o que gera subsídio para a estimação do valor do bem. Nesse caso, mesmo que os agentes sejam avessos ao risco, eles farão mais lances – não necessariamente elevados – pois acreditam que podem prever a possibilidade da maldição do vencedor.
Os leilões a seguir podem se enquadrar nos leilões acima, sendo uma subcategoria.
Leilões de valor privado: Leilões em que os participantes possuem uma avaliação individual do valor leiloado. Entretanto cada avaliação difere entre cada um dos agentes.
Leilões de valor comum: O item possui o mesmo valor para todos os participantes do leilão, mas eles não sabem exatamente qual é o valor do ativo.
As aplicações de leilões são inúmeras, tendo em vista que o método é uma importante ferramenta para diminuir o custo de transação. Além disso, e gera interação entre muitos compradores. Confira os exemplos que ocorrem com frequência no dia a dia.
Vale ressaltar que alguns leilões não ocorrem de forma linear. Por isso as vezes não conseguem ter o seu máximo de alocação. Pois o item a ser leiloado pode estar relacionado a questões de estratégia nacional ou pode passar por pressões geopolíticas. No caso do 5G, alguns países optaram por cancelar o serviço da Huawai, por conta da desconfiança em relação à proteção à informação contra o governo da China.
Tendo em vista a abrangência do tema o trabalho de Milgrom e Wilson contribui muito para o desenvolvimento da ciência. Conforme afirmou Peter Fredriksson, presidente do Comité do Prêmio Nobel de Economia “Os Laureados em Ciências Económicas deste ano começaram com a teoria fundamental e depois usaram seus resultados em aplicações práticas, que se espalharam globalmente. Suas descobertas são de grande benefício para a sociedade.”
Por fim, ainda não abriu sua conta na Nova Futura? Clique aqui e abra gratuitamente!