Perspectivas para a decisão do FOMC e do COPOM

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Nessa semana, dois eventos importantes estão na agenda dos mercados, a decisão do FED quanto à taxa de juros americana e o Copom com a decisão da taxa Selic. Apesar de se tratar do mesmo assunto, as expectativas do mercado vão em direções diferentes. Enquanto espera-se que o Bacen comece o ciclo de alta de juros, o FED tende a manter as taxas dos FED funds devem permanecer em 0,25%.

Para entender o motivo pelo qual as autoridades monetárias são preciso entender que os dois países possuem conjunturas totalmente diferentes. Enquanto, o Brasil tem maiores restrições fiscais, os Estados Unidos, sendo uma das maiores economias do mundo, possuidor da moeda forte no mundo e sendo um dos destinos mais importantes para capitais, acaba tendo mais espaço para manter a política de relaxamento monetário, a fim de continuar a estimular a economia americana, para que ela se recupere, da mesma forma que ocorre com o BCE (Banco Central Europeu). No Brasil, além da fragilidade fiscal e os efeitos econômicos gerados pela crise da COVID-19 e eventuais turbulências políticas, que acabam afetando o risco percebido em relação as taxas de juros longas, o avanço da inflação por conta do aumento dos preços dos combustíveis e das commodities também pesam fortemente na decisão do Bacen.

Nos Estados Unidos, por mais que as taxas de juros dos títulos de 10 anos terem subido nas últimas semanas por conta do receio da alta de inflação decorrente dos estímulos, principalmente fiscais, e retomada da atividade econômica. No entanto, alguns dados de atividade econômica mostram que a economia americana ainda não está a alcançar o crescimento esperado, principalmente no que diz respeito à produção industrial e as vendas e produção industrial.

No Brasil, apesar do hiato do produto ainda estar esticado e ainda haver a expectativa consensual de que a atividade econômica no primeiro semestre ter contração, os receios em torno da inflação, que em 12 meses chegou a 5,20% e de 0,86% em fevereiro, refletindo os preços dos combustíveis que recebem o impacto do ciclo das commodities. A desvalorização do real frente ao dólar também gera impacto nos preços.

O cenário fiscal também é algo que preocupa o Bacen, conforme Roberto Campos Neto informou na última reunião do comitê de política monetária. O andamento das reformas e os ruídos políticos contribuíram para que a taxa os DI’s futuros subissem devido ao aumento do prêmio em relação ao Brasil, haja vista que o risco foi se elevando, fazendo com que a autoridade monetária tirasse o foward guidence para fazer a política monetária.

Desde então, o Brasil passou por um período turbulento fazendo com que mais variáveis influenciassem as expectativas em relação à política monetária. Os ruídos na política devido as sinalizações de intervenção em companhias públicas com foi o caso do Banco do Brasil e Petrobras, fez com que o mercado ficasse incomodado com a possibilidade de a agenda liberal ser ofuscada, com o governo cedendo ao populismo para fins eleitorais em 2022, adicionalmente, o fato de Lula se tornar elegível devido à decisão do ministro do STF Edson Fachin deu estímulo adicional para o temor ao populismo.

Assim, tanto a inflação quanto os riscos fiscais, acabam por contribuir para que a perspectiva seja de elevação da Selic. Contudo, as altas nos juros tendem a ocorrer de forma gradual. A expectativa de crescimento negativo nos dois primeiros trimestres desse ano em meio ao avanço da COVID-19 e dos fechamentos de cidades importantes, faz com que o hiato do produto continue elevado, colocando uma restrição para uma alta mais abrupta.  Outro fator que dá espaço para que o Banco Central do Brasil não comece a restrição monetária de forma muito contundente é a aprovação da PEC fiscal para contrabalancear os gastos que serão feitos com o auxílio emergencial, que foi aprovado com os gatilhos fiscais, para que o teto de gastos não seja furado, dando mais espaço de manobra para a instituição.

Autor: Matheus Jaconeli.

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