A tecnologia e seu desempenho durante a crise do covid-19

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Em momentos de crise como os evidenciados atualmente, existem muitos setores, cujas empresas acabam perdendo mercado ou espaço. Pois, com a queda dos lucros a demanda por seus produtos diminuem, devido à queda na renda das famílias.

Por outro lado, esse momentos podem conceder oportunidades para alguns mercado. Entretanto, isso depende do modelo do negócio, estratégia e produto que determinada empresa oferece. Tais fatores são endógenos à decisão da firma, mas os fatores exógenos como o comportamento da demanda, também devem ser levados em consideração.

O cenário atual, impactou fortemente a demanda, pois a renda das famílias e o nível de atividade caíram fortemente. Considerando que muitas empresas tiveram problemas no recebimento de bens intermediários. Sendo eles necessários para a produção de seus produtos ou distribuição/venda no caso de lojistas e outros setores.

Além disso, as pessoas que continuaram com sua renda mantida tiveram que mudar abruptamente. Fazendo assim, com que muitas empresas que ainda poderiam ter algum folego, tivessem retração considerável em suas receitas.

Contundo, a crise contribuiu e consolidou ainda mais o setor de tecnologia e de empresas que conseguiram se adaptar a tal mudança. O ensino on-line já começa a ser observado como uma alternativa mais viável, com menos preconceito. As vendas por internet dispararam, além disso as demanda por plataforma de streaming aumentaram, com mais pessoas em casa buscando cada vez mais o lazer via internet com filmes, séries, jogos etc. A forma de fazer negócios também foi forçado a mudar, com o avanço de aplicativos de reuniões online e maior demanda de aplicativos já existentes.

Assim, algo que já estava sendo dito que seria o futuro, chegou mais cedo e, talvez, forçadamente pelo covid-19. A internet no mundo atual já era importante e ganhou ainda mais espaço na vida da sociedade.

As grandes empresas que se beneficiaram:  

Os preços dos ativos refletem às expectativas que os agentes possuem em relação às empresas referidas e, mudanças positivas na conjuntura, sociedade e política para determinado setor, fará com que as expectativas sejam positivas, fazendo com que a demanda por estes ativos aumente, elevando o preço.

O isolamento social fez com que reuniões empresariais fossem feitas por vídeo conferência, tal como encontro entre amigos, familiares, celebrações religiosas, aulas, entre outros. O ambiente social online, que, anteriormente, tinha destaque apenas nas mensagens de texto e publicações teve ainda mais atuação.

Um exemplo interessante foi a decolada das ações da empresa Zoom Video Communications Inc (ZM) contada na Nadasq:

Fonte: Investing

As ações da companhia saíram de US$ 119,66 em abril desse ano e alcançou US$ 276,42 em julho, ou seja, o papel teve valorização de 131% ao longo do período.

Netflix

Outras atividades passaram a ser mais demandadas pela sociedade ao longo do isolamento social. Dentro de casa, a demanda por filmes que já era elevada, passou a ser ainda mais aquecida.

As ações da Netflix (NFLX) alcançou desempenho muito parecido com o evidenciado pela Zoom. Apesar das empresas focarem em mercados diferentes, ambas navegam pelas mesmas águas. Sendo empresas, cujo negócio está totalmente ligado ao mundo cibernético.

A empresa que, muitos diziam operar sem gerar lucros consideráveis, evidenciara elevação positiva em seus números.

Investitors Relations Netflix

O lucro líquido da companhia teve elevação de 1,57% no segundo trimestre de 2020, ante ao primeiro trimestre do mesmo ano. No entanto, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, quando a economia mão passava por uma situação tão sensível. A receita da companhia também desempenhou bem:

Investitors Relations Netflix

Os números das receitas da empresa evidenciam aumento de 7% no segundo trimestre de 2020 contra o período imediatamente anterior. No entanto, quando comparado ao mesmo trimestre de 2019, há elevação de 25%.

Amazon

De forma mais diversificada, a Amazon (AMZN), uma companhia que possui maior diversificação, atuando na área de comércio eletrônico, computação em nuvem, streaming e inteligência artificial teve desempenho ainda mais expressivo.

Dado que as pessoas começaram a realizar compras online se utilizando da loja da companhia, além de utilizarem  a plataforma de streaming para ter acesso à músicas, filmes e séries, a companhia teve desempenho muito além do esperado pelo mercado, evidenciando que a empresa estava totalmente adaptada para a mudança ocasionada pela crise, a atender as novas necessidades de seus demandantes:

Fonte: Nasdaq

Como os agentes costumam adaptar suas expectativas aos resultados passados (ou correntes), as projeções para os próximos períodos foram para patamares mais elevados em relação às realizadas anteriormente.

Desempenho de Netflix e Amazon:

Fonte: Investing

O gráfico laranja é da Amazon e Netflix está em vermelho.

Outra forma de observar o desempenho do setor de tecnologia, é comparando a Nasdaq com os demais índices de ações americanos. Como a Nasdaq se refere majoritariamente às ações do setor de tecnologia, é possível ver uma grande diferença entre tal setor e os demais:

Fonte: Investing

O gráfico em azul se refere à Nasdaq, o roxo, ao S&P 500 e o cinza, ao Dow Jones. Além de Amazon, Netflix e Zoom, outras empresas também apresentaram bons desempenhos como Apple. Microsoft e Facebook.

O diferencial:

Além de estarem no setor de tecnologia, todas essas empresas têm outros fatores em comum como os ganhos em escala e/ou escopo e, até mesmo a estratégia competitiva que elas possuem em seus respectivos nichos de atuação.

Começando pela economia de escala, esse é um termo microeconômico que traduz a capacidade de uma companhia reduzir os seus custos com o aumento de sua produção. Isso está fortemente relacionado a ganhos com marketing, propaganda, pesquisa e desenvolvimento. Além de outras características nas quais a empresa possa se diferenciar e ganhar competitividade em determinado mercado.

A economia de escopo, assim como a de escala, também é um termo utilizado na microeconomia, para definir estratégias de empresas que conseguem diminuir seu custo médio, com a expansão da companhia em outra atividade se utilizando de algo que ela já possui. Por exemplo, a Amazon começou com o negócio de vender livros online a baixo custo em sua plataforma. Posteriormente, conforme a empresa foi crescendo, começou a vender aplicativos, games, acessórios, vídeos e sérios por intermédio de sua plataforma de streaming.

Google

O Google seguiu a mesma linha, de ferramenta de busca, seguiu a plataforma de e-mail, vídeo, reunião, entre outros serviços se utilizando do mesmo ambiente, o online.

Outro fator estratégico é que todas as empresas do setor possuem preços baixos. Pois estão ligadas à tecnologia e dependerem pouco de capital fixo. Assim, acabam por ter boa facilidade na engenharia de seus processos riscos como limitações por questões de mudança tecnológica abrupta, imitação, não afetam tais empresas. Por mais que muitas em presas tentem, é muito difícil entregar o mesmo produto de Google, Apple ou Microsoft.

Ademais os fatores citados que estão relacionados a fatores endógenos à companhia, o mercado, existem fatores exógenos que contribuíram para o bom desempenho das companhias do setor.

Além do momento econômico e social atual, a elasticidade renda da demanda por tais produtos não se mostrou tão elástica. Uma vez que mesmo o indivíduo que perdeu seu emprego, precisará acessar algum serviço de internet para fazer uma entrevista, buscar vagas ou enviar currículos. Ou seja, a variação na renda dos agentes, não impactou fortemente a demanda pelo bem.

Apple e Microsoft

Pela quantidade de dinheiro que as companhias acumularam ao longo do tempo fizeram que muitas delas valessem mais que o PIB de países. Apple e Microsoft têm o mais valor que o PIB do Brasil. A fortuna de Jeff Bezos é maior que toda riqueza produzida de 133 países, a Amazon, se fosse um país, seria a 17° maior economia do mundo, passando países como Turquia, Polônia, Suíça, Israel e Argentina.

Outro fator interessante é que, em momentos de risco, os investidores estão buscando grandes empresas de tecnologia. Uma vez que espera-se que a estrutura da demanda não tenha mudança e com o aumento do valor de mercado dessas companhias. Tais ativos são vistos como uma alternativa além dos títulos públicos de países desenvolvidos e ouro, por exemplo.

Assim, há quem diga que o setor de tecnologia está formando uma “nova categoria de ativo” no mercado financeiro.

No Brasil:

Abaixo dos trópicos, não há nenhuma companhia com o mesmo peso que uma Google, Apple, Netflix ou Amazon. Isso acontece por vários motivos, que vão desde instituições informais, como diriam os economistas institucionais, como Douglas North ou Daron Acemoglu, inerentes à cultura e formação do país, até as instituições formais, as quais envolvem políticas voltadas à facilitação do ambiente de negócios e foco na educação.

Todavia, existem empresas na bolsa brasileira que se beneficiam da alta de empresas de tecnologia no exterior. Apesar de não termos empresas com o mesmo Know How das empresas citadas acima, há companhias que também souberam adaptar sua estrutura ao momento atual, se inserindo ainda mais no ambiente online.

Dentre tais empresas, se destacam a Via Varejo (VVAR3) e Magazine Luiza (MGLU3). Ambas companhias do setor varejista, fizerem uma reengenharia em seus processos de venda, migrando para o ambiente online. Assim, a elevação da Nasdaq sinalizava para os agentes que também há possibilidade de que tais empresa brasileiras subissem.

Por mais que ambas empresas estivessem ligadas ao consumo, a aquisição de bens e serviços, por parte da população brasileira sustentara a demanda pelos produtos e serviços de tais empresas.

Fonte: Investing

O Ibovespa está em verde, em amarelo Via Varejo (VVAR3) e Magazine Luiza (MGLU3) em roxo.

Sinqia e Totvs

Além disso, com a necessidade da utilização cada vez maior de ferramentas online e de automatizadas, companhias que ofertam softwares como Sinqia (SQIA3) e Totvs (TOTS3) também se beneficiaram da alta no setor.

Fonte: Investing

O Ibovespa está em verde, em laranja SINQIA (SQIA3) e TOTVS (TOTS3), em azul.

As companhias brasileiras de tecnologia ou envolvidas com o setor por meio do e-commerce, apresentaram bom desempenho. No entanto, vale lembrar que é um erro comparar as companhias nacionais com as Big Tech’s americanas. Uma vez que as vantagens competitivas que elas possuem são bem distantes da realidade brasileira.

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