Ontem (10), a notícia de que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA apontou alta de 7,5% em janeiro, fez com que os investidores ficassem atentos aos rumos da política monetária americana.
A informação agitou o mercado financeiro global fazendo os rendimentos dos títulos do tesouro americano subirem. O Yield das Treasuries de 10 anos chegou a superar os 2%.
O primeiro ponto a ser considerado é que a inflação vem subindo fortemente em todo mundo. A alta nos preços de energia, os gargalos nas cadeias globais de suprimentos e o avanço das commodities influenciaram fortemente as altas dos preços.
O avanço dos preços ocorreu ao passo que a economia se reabria. Assim, como a oferta estava pressionada, sem conseguir atender a demanda, houve alta dos preços.
Como as taxas de juros permaneceram baixas, houve espaço para a inflação continuar subindo, o que parte que o mercado já criticava no ano passado, afirmando que os bancos centrais, principalmente o BCE e FED, estavam atrás da curva.
Na década de 80 houve forte aumento da inflação por conta da alta nos preços do petróleo por conta das restrições impostas pelos países produtores. Como resposta, o então diretor do FED, Paul Volker, elevou as taxas de juros aos níveis mais elevados da história.
Posteriormente, a inflação americana ficou controlada, pois os preços globais passaram por uma mudança estrutural. A mudança da matriz produtiva para a Ásia, onde a mão de obra era mais barata, ajudava na redução dos preços dos produtos e dos salários, contribuindo para uma inflação e, consequentemente, taxa de juros mais baixa.
Atualmente, como houve uma redução na oferta e alta nos preços por conta dos fatores citados acima. A situação atual não é tão drástica, até porque, na década de 80, a inflação americana chegou a 14%.
O indicador é correspondente ao IPCA no Brasil. É uma das principais variáveis que levam a autoridade monetária do país tomar a decisão de política monetária.
Todavia, como a cesta de bens do americano é diferente quando comparada com a do brasileiro, principalmente em seus pesos, isto é, os custos de alguns produtos pesam mais no orçamento do brasileiro quando comparado ao do americano, há uma certa diferença de proporção, mas de modo geral, os indicadores são equivalentes.
O impacto da alta da inflação nos Estados Unidos no Brasil e, principalmente nos investimentos, é o de que a alta de inflação em tal cifra (+7,5%), coloca pressão sobre o FED para tomar medidas mais duras no que diz respeito à política monetária, retirando estímulos e elevando as taxas de juros.
Tal perspectiva faz com que os rendimentos das treasuries (títulos do tesouro americano) subam. Como tais títulos possuem maior qualidade e são mais seguros, há uma tendência de que os investidores busquem esses rendimentos em detrimento de correr risco em mercados de renda variável.
Como o Brasil e outros países emergentes possuem perfil de risco maior, os investidores podem sair das bolsas desses países, em busca de segurança nos títulos do tesouro americano.
O impacto também ocorre no dólar. Como o investidor buscará investir nos títulos estrangeiros, então há venda de reais e compra de dólares, fazendo com que a divisa nacional se desvalorize frente à americana.
Contudo, apesar de isso ser um tendência, quando ativos nacionais estão muito descontados, os investidores globais podem olhar vantagem em aplicar em ativos locais, pois o desconto pode compensar o risco.
Autor: Matheus Jaconeli – Analista CNPI 2917