Ontem (25), os mercados se animaram com a provável aprovação do pacote fiscal no valor de US$ 2 trilhões, para estimular a economia americana e mitigar os danos causados pelo covid-19 e os efeitos colaterais do lockdown. Contudo, a fala de Nancy Pelosi, ainda pela manhã de que a proposta precisaria de revisão tomou maiores proporções com um novo impasse na tramitação do pacote devido ao embate entre democratas e republicanos.
Os democratas dizem que querem assegurar que a medida não beneficie mais os ricos em detrimento dos trabalhadores exigindo, segundo Joe Biden, supervisão para que isso não ocorra. Já os republicanos acreditam que a medida ligará trabalhadores e empresários com equidade, de modo a estimular a economia americana mediante o cenário incerto.
Apesar de ser consenso que a medida contribuirá como mais um meio de amortecer os impactos advindos do covid-19 na economia, os democratas exigem, ao menos, um seguro-desemprego de US$ 600 aos trabalhadores e perdoar US$ 10 mil em dívidas contraídas por estudantes junto ao governo federal.
Assim, os mercados em todo mundo, apesar da volatilidade do dia, abriram em alta, mas perderam a aceleração construída durante a sessão por conta do entrave político nos EUA.
Tendo em vista o cenário, as bolsas americanas fecharam o dia sem direção única. O impasse em relação a aprovação do pacote trilionário, diminui os ganhos gerados durante o pregão.
O Dow Jones fechou com alta de 2,39%. O S&P 500, teve ganhos de 1,15% e a Nasdaq perdeu aceleração até ficar no vermelho com queda de 0,45%.
Outro fator que contribuiu para os ganhos, mesmo que modestos em relação ao resto do mundo, foram os dados em relação ao petróleo. Os dados da EIA divulgou que os estoques de petróleo bruto acumulam 1,623 milhões de barris contra a expectativa de 2,774 milhões, uma queda de 16,94% em relação à última semana. Ademais, os preços do petróleo também se elevaram com maior intervenção dos EUA na guerra de preços da commodity por parte de russos e sauditas. Michael Pompeu, em teleconferência conversou com o herdeiro da casa Saud, Mohammed bin Salman sobre as consequências da pandemia do novo coronavírus para economia global e o secretário de Estado norte-americano acredita que vê oportunidades para acalmar o mercado com um possível desmanche da briga entre os leste-europeus e árabes.
Assim, a commodity teve ganhos de 2% no dia, fechando o dia cotado US$ 24,49.
O VIX, apesar de não ter voltado ao patamar de 70 pontos, subiu em 3,70% alcançando 63,95 pontos, traduzindo a volatilidade ocorrida durante o dia.
O Ibovespa, teve o segundo dia de recuperação após fortes perdas acumuladas, a registrar ganhos de 7,50% chegando aos 74.955,57 pontos.
O bom desempenho do mercado de ações brasileiro se deve muito mais às notícias do primeiro mundo, isto é, o pacote de estímulos nos EUA e na Alemanha aos eventos internos. No dia, os indicadores econômicos tiveram pouca relevância para mexer com a bolsa, até porque o indicador do setor de serviços não incorporou a rápida mudança conjuntura e o IPCA-15, apesar de atual e aquém do esperado, acelerando apenas 0,02% já estava precificado pelos agentes.
O que poderia ofuscar o avanço do mercado, de fato, seriam as incertezas políticas por conta do descompasso entre a esfera federal e estadual no que diz respeito às decisões de contenção do covid-19 e seus impactos posteriores.
O presidente Jair Bolsonaro argumenta que os efeitos do lockdown podem ser devastadores para economia brasileira, de modo a trazer mais estragos que o próprio covid-19 em si. Já os governadores, por outro lado, argumentam que se o isolamento total nãos ser feito, a pandemia pode tomar proporções enormes conforme ocorre na Itália, em linha com o que maioria dos especialistas em saúde afirmam.
Bolsonaro afirma estar em linha com o pensamento do governo de Donald Trump. Todavia, a Casa Branca planeja que o isolamento termine após à Páscoa, dia 12 de abril. Além disso, o governo brasileiro tem restrições fiscais para realizar estímulos fiscais análogos ao que o governo americano planeja.
Apesar da instabilidade política não ter afetado o desempenho das ações brasileiras ontem (25), pode existir aumento do risco percebido por parte dos agentes posteriormente.
Com a diminuição do risco para países emergentes com a melhora do cenário externo, o CDS do Brasil par cinco anos registrou queda, saindo de 356,5 pontos e atingindo 297,7 pontos ontem.
O câmbio não teve queda tão forte, com baixa de apenas 0,97%, fechando o pregão cotado a R$ 5,0326. Apesar da baixa, os investidores estrangeiros continuam a desmontar suas posições no país, evidenciando que ainda há risco por parte das perspectivas de fora.
Na Europa, os mercados alcançaram mais um dia de alta. Além das notícias oriundas do novo mundo, a chanceler alemã, Angela Merkel, confirmou o pacote de estímulo no valor de aproximadamente 750 bilhões de euros para arrefecer os impactos advindos do covid-19. O pacote é ainda mais impactante, pois é a primeira vez que um pacote como esse é feito pelo país desde a formação da constituição do país que observa uma tratativa que impede o aumento da dívida pública.
No Reino Unido, foi anunciado haverão 3,5 milhões de kits para testes caseiros comercializados nas farmácias. A medida ajudará a contabilizar o número de casos, elucidando melhor a situação para o governo.
Assim, as bolsas do velho continente foram lideradas por Paris, com alta de 4,47%. Em seguida, Londres, teve ganhos de 4,45%. Madrid acelerou 3,35%. Frankfurt e Milão também subiram com altas de 1,79% e 1,74% respectivamente.
No Brasil, além do relatório trimestral de inflação a demonstrar a visão dos policy makers em relação à situação econômica atual, o Bacen divulgará um dos principais termômetros para avaliação do PIB é o IBC-Br.
As expectativas para o mercado é de que o indicador de atividade econômica tenha nova retração para janeiro desse ano, 0,2%, com pouca mudança em relação à última observação, quando houve queda 0,27%.
A desaceleração do nível de atividade se deve à lenta recuperação que a economia brasileira já demonstrava durante o começo do ano, mesmo sem os efeitos do covid-19.
Os efeitos da pandemia do coronavírus, apenas acentuarão as quedas no PIB tendo em vista que a observação atual não leva em conta tais efeitos.
Quanto aos dados da construção civil por parte da FGV, também espera-se comportamento recessivo.
Como os dados são para março, já estão incorporados os efeitos das paralizações, redução dos gastos das famílias e firmas e desemprego advindas da pandemia.
Assim, com a queda na demanda, os preços relacionados à construção civil medidos pelo INCC devem cair, da mesma forma que o indicador de sentimento em relação ao setor divulgado pela instituição.
Hoje (26), há a divulgação de dados importantes no Estados Unidos e, entre eles, o PIB trimestral pelo Bureau of Economic Analysis. Apesar da evolução da crise decorrente do covid-19, espera-se manutenção no desempenho do indicador em relação à última observação, com crescimento de 2,1%.
Apesar de importante, o indicador ainda não estará considerando os efeitos do ápice da crise, os quais gerarão queda no consumo, nas exportações e nos investimentos.
Para impedir que a queda seja tão abrupta o governo americano luta para que pacotes de estímulo econômico sejam aprovados para amortecer o choque pandêmico.
A agência americana também divulgará a balança comercial. O indicador também compõe o PIB e o indicador também tem dependência do nível de renda do país, pois um aumento nas importações corresponde aumento na renda dos agentes para adquirir mais produtos de fora e aumento nas exportações significa que mais renda do exterior está adentrando na economia. A última observação evidenciou crescimento no indicador. Todavia, para fevereiro, não impressionará uma queda por conta queda na renda de outros países.
Ainda pensando no nível de atividade, o Census Bureau divulgará os estoques do varejo, com exclusão do setor de automóveis para o mês de fevereiro. O dado é importante para entender como o consumo, uma das variáveis do PIB está a se comportar.
Uma queda nos estoques significa que há aumento da demanda, gerando elevação nos preços e aumento das receitas para o setor. Contudo, os receios em relação ao coronavírus, os quais fizeram muitos consumidores postergarem o consumo presente, pode trazer elevação para o índice, evidenciando elevação dos estoques.
Todavia, como a demanda por bens duráveis para o mês divulgados ontem (25), superaram as expectativas, o índice pode ter resultado animador.
Mais um dado importante é o número de pedidos por seguro desemprego, o qual é uma prévia do tão esperado payroll. Os dados de desemprego também são fatores decisivos para a os rumos da política monetária nos EUA.
Dado o momento de crise e o fato de boa parte do emprego norte-americano ser vinculada à atividades de baixa complexidade e de setores relativamente informais, o dado divulgado pelo Departamento of Labor, pode traduzir os impactos oriundos da atual crise.
No dia 19 de março, os pedidos de desemprego alcançaram 281 mil pedidos, e a expectativa é de que hoje (26) sejam divulgados 1 milhão de pedidos, seguindo o mesmo caminho do Canadá, país vizinho, com dinâmica econômica menos aquecida e população menor, que registrou ontem (25) 500 mil pedidos pelo benefício. Porém, as políticas do FED podem amenizar o impacto.
No ano, o indicador acumula avanço de 4,21%, abaixo das perspectivas da época. Para março, os agentes também apostam na manutenção do indicador, com uma sensível aceleração de apenas 0,02 ponto percentual, ou seja, avanço de 4,23%.
A expectativa de sensível alta nos preços se deve à corrida dos consumidores para preencherem seus estoques durante o momento de crise e expectativa de fechamento do comércio. Por mais que os mercados fiquem abertos, muitas pessoas estão a ser demitidas, de modo que esses trabalhadores busquem preencher suas despensas mediante um cenário incerto, apesar das medidas do governo.
Quanto ao setor de serviços, espera-se retração de 0,3% no mês e manutenção na comparação anual em 1,6%.
Apear do dado não incluir mais conjuntura atual, por se referir ao mês de janeiro, mostra a lenta recuperação da economia que ocorrera mesmo antes do surto de covid-19 em todo mundo.
Tendo em vista que o setor de serviços atende a demanda de firmas e famílias e que o comércio está fechando para evitar o contágio, a expectativa mais quedas para o setor ao longo do ano até o arrefecimento da crise.
Na Europa, a agenda não estará tão cheia, os dados divulgados serão disponibilizados pelo Gkf e pelo Banco central Europeu.
O Instituto de pesquisas Gkf, divulgará como a percepção alemã em relação ao consumo, sendo uma prévia do consumo das famílias como um todo, importante variável da composição da renda do país.
Como o indicador refletirá o sentimento dos consumidores em relação ao mês de abril, há expectativa de queda no dado, por conta do avanço do covid-19 que assola a Europa. Na última observação foi registrado 98 pontos no índice e, agora, o mercado espera 71 pontos.
Contudo, os pacotes de estímulo por parte do governo de Merkel, podem amenizar os efeitos recessivos na economia alemã, contribuindo para quedas menos abruptas no consumo.
O Banco Central Europeu, por sua vez, divulgará o relatório mensal assinando as perspectivas e estratégias que hão de ser tomadas pela autoridade monetária.
De acordo com o restante do mundo, a instituição tem sido muito ativa no combate aos danos causados pelo covid-19, expressando a atitude firme de Christine Lagarde.