A virada “hawkish” do BC

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Após o Comitê de Política Monetária (Copom) tomar uma decisão que superou as expectativas da maioria do mercado, subindo a taxa de juros referencial da economia brasileira, a Selic, em 0,75 pontos percentuais, uma alta que ocorre após quase 6 anos, hoje, a Ata do Copom, que contém os pareceres do Banco Central referentes à economia, suas perspectivas e os motivos para a tomada de decisão, confirmou ainda mais sua postura altista.

A autoridade monetária brasileira enfatizou pontos como os riscos fiscais, alta da inflação e os efeitos do recrudescimento da pandemia no Brasil e, consequentemente, as medidas de distanciamento social para conter os avanços dela. Apesar desses pontos já serem citados no comunicado à imprensa no dia da decisão da taxa de juros, na Ata o BC se mostrou mais rigoroso em relação a esses pontos.

Riscos fiscais: Os riscos fiscais ainda continuam ser um fator a ser levado em consideração pela autoridade monetária, ainda mais com o avanço da COVID-19, que exige uma nova rodada de gastos para manter a demanda agregada. Apesar da PEC emergencial ter passado, o que daria mais espaço de manobra para a autoridade monetária. O prêmio de risco, continua elevado, o que pode ser refletido nas taxas de juros mais longas. Apesar do câmbio não ser uma variável necessariamente considerada para a tomada de decisão do BC, a situação fiscal do país, faz com que o real se deprecie frente ao dólar impactando outras variáveis importantes.

Inflação:  A manutenção do poder de compra da população é uma das principais preocupações da política monetária, logo, dentro do balanço de riscos, a inflação é uma das variáveis mais importantes que o BC leva em consideração ao tomar suas decisões. Apesar da inflação atual não ser originada por um choque de demanda, tendo em vista que a atividade econômica ainda continua distante de seu potencial. Em grande medida, a o problema inflacionário se refere a um choque de custos que pode ser dividido em duas partes para efeitos didáticos. Por um lado, há as dificuldades de abastecimento da cadeia produtiva, principalmente do setor de bens, que teve avanço no ano passado, fazendo com que os custos de produção se elevassem, fazendo com que tais custos começassem a ser repassados atualmente. Por outro lado, há a elevação dos preços das commodities, afetando muitos produtos que fazem parte da cesta de bens do consumidor, principalmente no que diz respeito ao setor de combustíveis. A elevação nos preços internacionais das commodities também acaba gerando um efeito secundário em contratos, pois acaba impactando o IPA (Índice de Preços ao Produtor), que, por sua vez, afeta o IGP-M, índice pelo qual muitos contratos são ajustados. Também é preciso levar em consideração que, apesar do câmbio não ser levado em conta para a decisão do BC quanto à taxa de juros, ele é um sinal que mostra o risco percebido em relação ao país quanto às questões ficais e políticas do país, fazendo com que o ciclo das commodities não seja benéfico para o real, como foi em outros momentos, fazendo com que esses bens também fiquem caros em moeda nacional, impactando a inflação indiretamente.

Atividade econômica e COVID-19: O BC também disse que está atento à atividade econômica e comentou a heterogeneidade da retomada econômica, observando o crescimento acima do esperado da economia brasileira no ano passado e número de vagas formais acima das expectativas, apesar da taxa de desemprego ainda estar elevada. Assim, o Bacen pretende continuar a retirar os estímulos extraordinários da economia.

Controversas: Apesar de boa parte dos economistas considerarem que as altas no sejam necessárias para o momento, principalmente por conta da elevação do prêmio de risco e das pressões inflacionárias, não há unanimidade, principalmente quando se ouve economistas de fora do mercado financeiro, uma vez que a alta dos juros pode penalizar a retomada da atividade econômica. Para esses economistas, a inflação tem um papel transitório, como o Banco Central já comunicou outras vezes, além de poder impactar negativamente o custo de carregamento da dívida. Todavia, o mercado não é fator a ser desconsiderado, uma vez que o aumente do risco percebido em relação ao mercado, que também tem como variável o comportamento do BC frente à inflação e os prêmios, podem afetar as taxas de juros de longo prazo e o câmbio.

Autor: Matheus Jaconeli.

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