Nos últimos dias, no noticiário da mídia especializada de economia, finanças e investimentos, diz que um dos principais motivos para as sucessivas quedas no principal índice da B3, o Ibovespa, é decorrente dos temores quanto à deterioração do cenário fiscal do país.
Tal cenário já era previsto, como resultado dos impactos advindos da crise do covid-19 por todo o mundo. No entanto, como falamos no texto “Política econômica em tempos de crise”, países subdesenvolvidos têm menor tolerância em para expandir seus gastos. Devido ao perfil da dívida, instabilidade econômica, baixo crescimento etc.
Assim, internacionalmente, segundo o mainstream economics, o ideal para os países desenvolvidos é gerar mais gastos. Porém, isso pode elevar o endividamento pois é uma das formas de financiar a política fiscal expansionista. Todavia, quanto aos países da periferia, o ideal é ter um certo controle de gastos para que as contas públicas nãos sejam comprometidas.
Apesar do controle fiscal ser algo importante a ser preservado, a economia está sempre subordinada a questões políticas. Assim como diz a teoria microeconômica, o foco de todo agente racional é maximizar sua função de utilidade. Isto é, buscar pelo que gera mais satisfação e bem-estar. Para o político, a maximização de sua satisfação está em se manter no poder. Para isso, ele acaba mudando suas posições quanto à economia e, até mesmo filosofia política e social, quando comparado ao início das eleições.
Tal mudança pode ocorrer, porque como analisou o economista James McGill Buchanan Jr, a política também é tratada como um mercado, o qual ocorre trocas e onde cada agente busca o máximo de bem-estar com suas escolhas. Normalmente, essa mudança de comportamento acontece quando se aproxima alguma eleição, o que é chamado de Political Business Cycle, isto é, um ciclo econômico criado pela mudança de política econômica quando uma eleição se aproxima. Por exemplo, em anos de eleição, governadores e prefeitos começam a investir e acelerar projetos infraestrutura e/ou mobilidade.
Assim, para se eleger, o político pode “vender” um plano de governo. Contudo, uma crise, as preferências dos indivíduos podem mudar em decorrência da perda de emprego, por exemplo. Assim, pessoas que votaram em um plano mais liberal de economia, podem passar a desejar um programa mais intervencionista. Como o Estado tendo um papel mais ativo na economia e ampliando a política de rendas por intermédio dos gastos públicos.
Tal medida, também aumenta a utilidade do político uma vez que ele busca sua reeleição. Contudo, tradicionalmente, o mercado financeiro não enxerga tal mudança com bons olhos. O aumento do benefício para auxiliar os mais vulneráveis gera aumento nos gastos, os quais serão, em parte, financiados pelo aumento da dívida pública futura, o que aumenta o risco percebido em relação ao país.
Conforme apontado pelo Instituto Fiscal Independente (IFI), as receitas primárias possuem trajetória decrescente uma vez que a renda está caindo por conta da crise, o que gera queda na base de arrecadação, enquanto a as despesas são crescentes, uma vez que foram feitos mais gastos:
Como foi dito, o mercado financeiro prefere políticas fiscais mais austeras, com foco no controle da dívida pública. Isso acontece porque o preço das ações a valor presente, dependem do fluxo de caixa esperado das empresas, da taxa de crescimento esperada e da taxa de juros de longo prazo.
Assim, temo que, quando a taxa de juros de longo prazo sobe, o valor das ações cai e, por isso, as ações tendem a perder valor, pois os agentes estarão reformulando suas expectativas em relação ao mercado.
A taxa de juros longa sobe, pois, com o aumento dos gastos públicos, espera-se que, no longo prazo, a estabilidade econômica do país seja afetada, tal como a dívida pública e o crescimento da economia. Entre outras coisas, a taxa de juros de longo prazo também é afetada por perspectivas de aumento da inflação e risco político, algo muito comum em países de renda média e/ou baixa:
Além dos gastos em si, outros fatores geram piora nas expectativas dos agentes, para que a taxa de juros de longo prazo tenha tal elevação, como o perigo de Paulo Guedes sair do ministério da economia. Ao longo do mês de agosto, muitos secretários importantes, os quais lideravam pastas como as da privatização, fiscal e outras, geraram dúvidas quanto a permanência do economista no governo, além da mudança de postura do governo quanto ao enfrentamento da crise. Assim, como é possível ver no gráfico, a partir de agosto, a taxa de juros para 2027 voltou a subir.
Apesar, de no Brasil, a bolsa de valores estar relativamente distante da economia real, por conta da informalidade do mercado de trabalho brasileiro e por conta de poucas empresas estarem listadas bolsa, o economista James Tobin, mostra uma relação interessante entre os investimentos realizados na economia real e do preço das ações das empresas. A relação é chama “q” de Tobin.
Quando o “q” de Tobin é maior que a unidade, isso significa que o valor do capital no mercado financeiro é superior ao seu valor instalado, ou seja, na empresa. Quando isso ocorre, há margem para que ocorram mais investimentos produtivos, por intermédio da variação nos estoques, os quais são parte do investimento produtivo.
Porém, quando é menor que um, significa que, no mercado financeiro, o valor do capital instalado é maior, de mondo que não há incentivo para a realização de novos investimentos.
Como muitas empresas que não são cotadas na bolsa prestam serviços para as que estão cotadas no mercado financeiro, a queda no investimento de companhias com Petrobras, Via Varejo, Magazine Luiza, WEG e outras, pode gerar efeitos sobre outras empresas, diminuído o nível de atividade da economia.
No gráfico acima, há a cotação do Ibovespa entre abril e agosto do presente ano. A partir do momento que os temores quanto à saída de Paulo Guedes e da deterioração das contas públicas começaram a aumentar, tal como uma possível guinada populista do presidente Jair Bolsonaro, o índice perdeu força e começou a cair.
Com base no raciocínio acima, é importante levar em consideração o comportamento das contas públicas, das taxas de juros e, até mesmo, no comportamento da sociedade e dos políticos, para compreender como o mercado financeiro funciona e como os preços dos ativos variam.
Vale lembrar que finanças uma disciplina que está dentro da economia. Uma vez que a economia interdisciplinar como falamos no texto “Dia do Economista”, as finanças, o que inclui o mercado financeiro, também está à mercê de eventos políticos, econômicos, geopolíticos, geográficos e, até mesmo, sociais.
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