Tendo em vista o problema histórico que já tivemos com inflação e com o endividamento público, ao ver uma taxa de juros baixas e os preços pelo IGP-DI da FGV (Fundação Getúlio Vargas), algumas pessoas começam a temer a possibilidade de elevação da inflação, temendo que os problemas de outrora assombrem a sociedade brasileira.
No entanto, a inflação, possui um comportamento que pode ser explicado teoricamente e eventos exógenos à economia brasileira podem explicar a alta nos preços de alguns bens em específico, os quais fazem o consumidor sentir que o seu poder de compra vem diminuindo, mas isso não significa, necessariamente que esse indicador explodirá.
- História recente:
Primeiro, é importante especificar as causas do aumento da inflação mais recente, isto é, a crescente dos preços a partir de 2014 até 2016.
Um dos primeiros fatores que devem ser levados em consideração é o de que o hiato do produto não estava esticado, ou seja, a taxa de crescimento do período estava próxima da taxa de crescimento de Stead State, como pode ser observado nas expectativas do PIB.
Além da atividade econômica aquecida devido às ao memento econômico que mundo passava e elevação das commodities e aumento na demanda por produtos brasileiros por parte dos parceiros comerciais do Brasil, especialmente a China, o faziam a economia crescer.
Além do crescimento econômico ser impulsionado pelo avanço da economia internacional, as políticas voltadas ao estímulo do consumo como o acesso ao crédito e políticas de renda, também contribuíram para manter a demanda agregada em níveis elevados.
Contudo, a irresponsabilidade fiscal por parte do último governo da era PT, fez com que boa parte dos gastos se elevassem acima do que saudável para economia, gerando inflação e comprometendo a economia.
No período anterior, antes da crise do governo de Dilma Rousseff, a economia operava com desemprego em níveis muito baixos, o que fazia dava espaço para haver inflação.
- Crise do Covid-19
Atualmente, o cenário é muito diferente. O hiato do produto está totalmente esticado por conta dos choques pelo lado da oferta e da demanda que a economia sofreu por conta do avanço do covid-19 e das medidas adotadas para tentar amenizar o seu avanço.
Assim, os produtores ficavam impossibilitados de ofertar, uma vez que as empresas e comércio estavam fechados e insumos não chegavam da China e de outros países, impossibilitando a produção, o que diminui a oferta de produtos.
De forma simultânea, com o isolamento social e fechamento dos negócios citado acima, muitas pessoas perderam o emprego, principalmente aquelas que possuíam empregos informais ou que trabalhavam como autônomos.
Com tais impactos a economia brasileira ficou parada, haja vista que a maioria dos componentes da demanda agregada tiveram retração, conforme pôde ser visto no resultado do PIB do segundo trimestre.
A queda no PIB do segundo trimestre de 2020 superou a retração do indicador do quarto trimestre de 2008, momento da crise financeira que assolou o mundo.
- Dinâmica da Inflação:
Com o desemprego elevado, em 20% caso todos estivessem a procurar em prego e atividade econômica em níveis muito baixos, não há fatores para que a inflação suba.
Tendo como inflação corrente, a inflação esperada para o período corrente, o hiato do produto e a diferença entre o desemprego atual contra o desemprego natural (ou potencial), e como tais diferenças se distanciaram pois, e , temos redução na inflação ou na diferença entre a inflação esperada para período observado e a própria inflação para o período: .
Todavia, muitos possuem receio por conta da taxa de câmbio e do avanço dos preços registrado pelo IGP-DI.
- IGP:
Apesar do real ter se desvalorizado frente ao dólar por conta das incertezas observadas no cenário externo e pelos ruídos políticos, o dólar, quando comparado com outras moedas internacionais, vem caindo, fazendo com que o preço de commodities avancem no mercado internacional, conforme pode ser evidenciado pelo DXY:
Ao observar os grupos do IGP-DI, o IPA (índice de preços ao produtor) o qual evidencia os preços do varejo e é o maior a compor dos IGP’s teve elevação de 5,44% no mês e de 15,71% no ano.
Além disso, o IPA, teve como principais fontes de elevação. Os preços das matérias primas brutas avançaram 36,78% no mês e os preços produtos agropecuários, avançaram 21,59%.
O preço de tais produtos acabam por pesar do orçamento dos agentes, pois alimentação foi teve o maior avanço no IPC (índice de preços ao consumidor), refletindo a alta nos preços das commodities, em 5,44% no ano e de 0,81% no mês.
Apesar da alta sob a perspectiva do produtor, os produtores não conseguem repassar os seus custos para os consumidores, uma vez que o nível de atividade e, por consequência, o consumo ainda estão em níveis baixos por conta da crise.
- IPCA:
É possível observar que o repasse não ocorre observando o IPCA, o índice oficial de inflação do Brasil, haja vista que o indicador teve elevação de 0,24% em agosto dentro das expectativas do mercado e abaixo do registrado no mês imediatamente anterior. Em 12 meses, o IPCA, registrou elevação de 2,44%.
Apesar de, em 12 meses a inflação de agosto mostrar leve alta, sob a perspectiva do IPCA, os demais itens da cesta de bens não afetaram o indicador, haja vista que as altas expressivas foram verificadas apenas em Transportes, por conta dos preços da energia (no caso gasolina) e Alimentação e Bebidas.
Assim, a alta da inflação se dá nos que economistas chamam de inflação non core, isto é, bens que fazem parte do consumo autônomo dos agentes, isto é, produtos da cesta de bens, cuja demanda é inelástica em relação à variação dos preços.
No entanto, no curto e médio prazo, não há perspectivas de inflação, por conta da fraca atividade econômica, salários baixos e elevado desemprego.
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