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A economia e o comportamento do consumidor durante a pandemia

Written by Nova Futura | 20/10/2023 19:58:40

Muito se fala a respeito do impacto da pandemia da Covid-19 sobre a economia e o comportamento do consumidor. Para isso utilizam-se pesquisas qualitativas sobre as mudanças de hábito das pessoas e/ou quantitativas sobre as suas compras. Exatamente para não ficar no lugar comum, vamos propor uma abordagem diferente, usar o resultado do IPCA em 2020 para ver o que aconteceu com a cesta de consumo do brasileiro nesse ano de pandemia.

Vamos começar pelo setor que talvez tenha tido o desempenho mais surpreendente durante a crise, o de material de construção. Seja porque o Auxílio Emergencial aumentou a renda das camadas mais pobres de tal forma a abrir espaço no orçamento para reformas, seja porque o Home Office mostrou a necessidade de adaptações nas casas e apartamentos, o fato é que boa parte do grupo Reparos subiu mais que o dobro da inflação geral. Destaque para alguns produtos que sempre se ouviu falar que havia problemas para achar nas lojas, como Tijolo (29,77%), Cimento (16,99%), Telha (14,65%) e Material Hidráulico (18,18%).

O impacto do Home Office

Entretanto o “fique em casa” e o Home Office não incentivaram apenas a reforma das casas, mas, principalmente, a sua adaptação aos novos tempos. Por isso, não parece surpresa as altas expressivas dos Ar Condicionados (12,53%), Televisores (16,63%) e Computadores (22,47%). Nesse ponto, fica até a dúvida se o novo “escritório” não foi transferido para a cama dos trabalhadores, já que tivemos altas expressivas nos itens Colchão (36,93%) e Roupa de Cama (10,82%). Enquanto os Móveis para Sala tiveram deflação de 4,56%. Continuando na toada de adaptação da rotina aos novos tempos, os consumidores não se esqueceram da saúde mental investindo em divertimentos como Videogames (14,31%) ou em hobbies como a música, que levaram os Instrumentos Musicais a subirem 15,41%.

O provérbio latino diz que “mens sana in corpore sano” e parece que isso também foi levado à sério durante a pandemia com os preços das Bicicletas subindo 14,21%. Mas se elas podem ser usadas apenas como forma de lazer e exercício, também podem ser uma opção de locomoção alternativa ao transporte público, assim como o Aluguel de Veículos, que teve alta de 11,87%.

IPCA

Entretanto, nem só de altas viveu o IPCA em 2020. Além disso, se as altas expressivas de alguns itens podem mostrar as mudanças de comportamento do consumidor, as quedas também podem ser úteis.

Com a alta de 18,16% no grupo Alimentação no Domicílio e de apenas 4,78% no Alimentação Fora do Domicílio, fica claro que, apesar do crescimento do delivery, as margens do setor de restaurantes devem ter ficado bastante comprimidas durante a pandemia. E não foi apenas os restaurantes. Produtos que dependem mais da presença física do consumidor que, por isso, tem uma resistência maior para comprar pela internet, apresentaram deflações, como caso do grupo Vestuário que caiu 1,11% em 2020. O mesmo pode ser dito de certos serviços, como Costureira (-0,63%) e Cabelereiro (-0,93%).

Entretanto, os setores que mais sofreram foram, sem dúvidas nenhuma, os de viagem e entretenimento, que só funcionam gerando algum tipo de aglomeração, com as Passagens Aéreas caindo 17,15%, Hospedagem 8,07% e Cinema, Teatro e Concertos, 1,68%.

Interessante notar também o que aconteceu dentro do grupo Educação. Enquanto a parte do ensino, que pode-se dizer eletivo, apresentou deflação, como Pré-escola (-0,92%), Ensino Superior (-0,73%) e Pós-graduação (-4,69%), aqueles mais difíceis de abrir mão, onde as relações de clientela são mais fortes, tiveram altas só um pouco abaixo do índice geral, como Ensino Fundamental (3,73%), ou mesmo acima, como Ensino Médio (5,06%). Mas, uma coisa que pode ser dita com certeza com relação ao ensino a distância é que os estudantes não fizeram uso do Caderno, que caiu 6,23% em 2020.

Mudanças nos hábitos do consumidor

Para o bem e para o mal, o IPCA em 2020 mostrou a mudança forçada nos hábitos dos consumidores com a pandemia. Algumas dessas mudanças vieram para ficar, outras serão passageiras, mas, a diversidade de dos impactos mostrou que devemos olhar os índices econômicos além dos seus números consolidados. Ao olharmos apenas a floresta, perdemos a beleza das árvores.

Autor: Luis Otavio Leal – Economista chefe do Banco Alfa